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Empresa que adiou traslado de turista no Peru enfrenta 148 processos em SP e no Rio

Giuliander Carpes

Do UOL, no Rio

20/09/2013 15h51

Na semana passada, a arquiteta carioca Natália Duffles teve de passar por uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro às pressas no Peru porque seu seguro-viagem não providenciou sua transferência para um hospital do Rio de Janeiro a tempo. Mas este não é o primeiro caso em que a AXA Assistance USA, empresa contratada pelos usuários do cartão de crédito Visa Platinum, deixa algum cliente desamparado no exterior. A AXA Assistance USA responde a 148 processos apenas nos tribunais de Justiça do Estado de São Paulo (77) e do Estado do Rio (71).

Fábio A. (ele preferiu omitir seu sobrenome para não ser prejudicado em um processo que move contra a seguradora), que mora no interior paulista, é um dos que passaram por agonia semelhante à de Natália. Em fevereiro de 2012, na Suíça, ele fraturou a perna direita em três lugares diferentes em um acidente de trenó pelos Alpes.

A AXA Assistance USA demorou para aceitar fazer o pagamento de suas despesas médicas, e o engenheiro mecânico foi mandado embora do hospital em que estava internado, na cidade de Interlaken.

O UOL teve acesso à troca de e-mails entre o engenheiro e a seguradora. Fábio se acidentou no dia 21 de fevereiro, passou por duas cirurgias, entregou a documentação exigida pela AXA Assistance USA no dia 27 e, até o dia 2 de março, a empresa não havia manifestado nenhuma intenção de fazer o pagamento ao hospital. Foi quando o cliente e a namorada acabaram desalojados. 

O UOL entrou em contato com os representantes da empresa no Brasil, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. A Visa afirma que não fala sobre casos específicos para não interferir na privacidade de seus clientes.

  • Divulgação

    Natália Duffles (esq.) precisou passar por uma cirurgia de emergência para remoção de parte de um tumor no cérebro no Peru

“Foi a situação mais humilhante da minha vida. Ganhei o seguro quando comprei a passagem e jamais poderia imaginar que passaria por um problema desses. Saí do hospital só de muletas”, contou Fábio. “Meu hotel não tinha elevador, e tive de subir as escadas pulando agarrado pelo dono. Saí sem os medicamentos que estavam me dando no hospital e, depois que minha namorada comprou-os, tive de aplicar as injeções na minha própria perna, torcendo para que estivesse fazendo a coisa certa.” 

A humilhação não terminou por aí. Era preciso retornar ao Brasil, e os médicos aconselharam que ele tivesse espaço disponível na aeronave para a perna lesionada. No dia 3 de março, veio a resposta.

Apesar de ter vendido um seguro para remoções no valor de US$ 50 mil, a AXA Assistance USA se negou a pagar pelo repatriamento adequado - a conta do hospital foi acertada. Fábio tentou fazer um upgrade na sua passagem para classe executiva ou primeira classe e também não obteve sucesso. 

“Eles me trataram todo o tempo como um produto financeiro. Minha sorte no voo foi que a aeromoça me trocou para um lugar onde eu podia deixar a perna esticada. Tive que depender da aeromoça”, afirmou Fábio. “Aqui no Brasil, meu pai teve que me pegar no aeroporto, quando os médicos haviam indicado um transporte adequado. Tive de fazer tudo ao contrário do que o médico tinha dito. Corri muito risco.”

Moacyr da Costa Neto, advogado de Fábio, alega no processo violação ao dever geral de informação e solidariedade e outras violações contratuais, além da exposição humilhante de seu cliente a toda a sorte de riscos, incluindo, os pós-cirúrgicos. Hoje em dia, depois de passar um ano fazendo fisioterapia, o engenheiro ainda manca da perna direita e não pode correr.

Tumor

A arquiteta Natália Duffles precisou passar por uma cirurgia de emergência para remoção de parte de um tumor no cérebro no Peru, devido à demora na remoção para o Brasil em UTI aérea. Operada no último dia 12, a carioca retornou ao país apenas na quinta-feira (19).

A AXA Assistance USA afirmou que não foi possível fazer a transferência de Natália porque o médico que atendeu-a no país andino não autorizou. A seguradora afirmou em nota que a logística da transferência da arquiteta já estava completamente organizada, mas o médico que lhe assiste no Peru retrocedeu na decisão de autorizá-la a voar com base em sua situação clínica.