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"A gente anda sobre pedaços de madeira", diz moradora de cidade com pior saneamento do país

Elias Santos

Do UOL, em Belém

02/10/2013 14h12

Nas primeiras horas da manhã, a dona de casa Eliene Bezerra, 47, moradora do bairro Icuí-Guajará, em Ananindeua (PA), enfrenta uma maratona. Enche baldes com água, dá banhos nos filhos, se equilibra entre pedaços de madeira da porta de casa até o final da rua, onde fica a parada de ônibus, para levar as crianças até a escola. Uma rotina exaustiva. A cidade onde mora integra a região metropolitana de Belém, capital do Estado, e mesmo assim assume características de regiões longínquas, como a falta de saneamento.

Ananindeua aparece em último lugar no ranking que apontou as condições adequadas de saneamento básico em cem cidades brasileiras. No Pará, outras duas integram a lista de dez piores: Belém e Santarém. O levantamento foi divulgado pelo instituto Trata Brasil. As localidades amargam baixos índices de cobertura e eficiência dos serviços.

Os dados são referentes a estudos realizados em 2011 pelo SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico), publicado pelo Ministério das Cidades. “A gente anda por cima de pedaços de madeira para poder se locomover por aqui. As ruas fedem, pois os esgotos são abertos, não temos redes de tratamento”, queixa-se Eliene.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saneamento e Infraestrutura de Ananindeua (Sesan) aponta problemas políticos, entre eles a gestão anterior, como justificativa para o posicionamento no ranking. Segundo a prefeitura, dados do IBGE de 2000 mostram que 7% das residências no município eram atendidas com rede de esgoto. Investimentos feitos durante o primeiro governo Pioneiro (atual prefeito), conforme explica o texto da assessoria.

“Quando o Pioneiro deixou o governo o índice estava próximo de 9%, infelizmente nada mais foi investido na cidade na gestão passada e com o crescimento o índice de hoje baixou para 4% e para piorar Ananindeua deixou de prestar informação ao Sistema Nacional de Saneamento em 2012, por isso foi colocado o índice de 0%, ou seja, não fizeram nada e o pouco que tinha não foi informado”, destaca a nota. A meta do prefeito, conforme afirma assessoria, é chegar em 2016 com o crescimento de 16% na rede de esgoto local.

Belém

A capital paraense ainda precisa realizar mais de 60 mil novas ligações de água para alcançar a universalização do serviço, além de garantir mais de 240 mil novas ligações de redes de esgoto. A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), órgão estadual, informou que a cobertura de água em Belém chega a 79,92%. A responsabilidade de criar infraestrutura como o saneamento em áreas urbanas é municipal. A concessão é dada à Companhia apenas para o serviço de distribuição de água e esgotamento sanitário, mas após criar-se uma rede de drenagem.

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Em áreas de palafitas, por exemplo, a Cosanpa afirma que não tem como levar água encanada e esgoto, se não houver a urbanização. A companhia garante que conseguiu recurso federal na ordem de R$ 15 milhões para projetos de esgotamento sanitário na região metropolitana para áreas urbanizadas.

A prefeitura de Belém ressalta que os dados utilizados pela pesquisa são do ano de 2011 e considera dois itens que não são municipalizados e foram repassados ao Governo do Estado através de um convênio federativo. A administração municipal defende que existem obras em execução para sanear e urbanizar toda a Bacia da Estrada Nova, que é a segunda maior de Belém. As obras devem ser finalizadas em outubro de 2015

Santarém

Recentemente, o governador anunciou a retomada das obras do PAC em Santarém, previstas para iniciar ainda este ano. A Cosanpa informou que ao final das obras, a cidade de Santarém estará com 94% de cobertura de água tratada. A obra está orçada em R$ 109 milhões de reais. Desde o ano passado, a Cosanpa vem realizando manutenções preventivas nas unidades operacionais do município, assim como a limpeza dos poços que aumenta a produção de água.

De acordo com o Hugo Aquino, coordenador municipal de saneamento básico de Santarém, a posição da cidade no ranking faz parte de um processo histórico. “A cidade possui 453 anos. Até a década de 1970 não existia rede de esgoto, tratamento de água, nada. Foi quando iniciou-se o processo de ordenamento. Com estes investimentos, até o início de 2015 daremos um salto positivo nessa lista”, disse.