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"Não quebrei nada", diz estudante presa em manifestação em SP

Luana Bernardo Lopes e Humberto Caporalli foram presos durante protesto na última segunda-feira (7) em São Paulo, e indiciados pela Lei de Segurança Nacional; os jovens foram libertados após ordem de juiz - J.Duran Mchfee/Futura Press/Adriano Lima/Brazil Photopress/Arte/UOL
Luana Bernardo Lopes e Humberto Caporalli foram presos durante protesto na última segunda-feira (7) em São Paulo, e indiciados pela Lei de Segurança Nacional; os jovens foram libertados após ordem de juiz Imagem: J.Duran Mchfee/Futura Press/Adriano Lima/Brazil Photopress/Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

10/10/2013 12h24

A estudante de moda Luana Bernardes Lopes, 19, presa na noite de segunda-feira (7) durante protesto em São Paulo afirmou em nota publicada em seu perfil no Facebook que não quebrou nada durante a manifestação.

Mascarados viram carro da polícia durante protesto em São Paulo

"Não quebrei nada, não depredei nenhum patrimônio publico, não bati, quebrei, atirei pedras em carro, loja ou estabelecimento publico algum. Nunca fui a favor de nenhum tipo de violência gratuita", escreveu a jovem.

Luana também afirmou que Humberto Caporalli, 24, artista plástico que foi preso com ela, é apenas seu amigo. Os dois foram indiciados pela polícia com base na Lei de Segurança Nacional, sancionada em 1983, ainda na época da ditadura militar.

Segundo a polícia, eles estariam participando da depredação de um carro da Polícia Civil no local.

A principal prova encontrada pela polícia foram fotografias salvas na câmera de Humberto, registrando o ataque ao carro oficial, que foi virado. Os dois jovens foram soltos na noite de quarta-feira (9).

Casal preso é enquadrado em lei da época da ditadura

Em seu comunicado, Luana conta que foi apenas fotografar o protesto e que se cometeu um crime foi o de "acreditar com toda minha fé que única arma que pode mudar algo é a da arte."

"Nessa segunda feira dia 7, sai de casa mais ou menos as 17h para fotografar um evento que, segundo o Facebook, era sobre os professores com apenas 3.000 pessoas confirmadas. Fomos eu e Humberto - meu amigo, não namorado - com uma câmera na mão e algumas tintas", escreveu. 

"Nos propomos a ir lá fotografar um momento de nosso tempo - não sei se faz sentido a vocês, mas sempre fui uma grande apaixonada, e curiosa pela historia do mundo - e foi isso, e apenas isso que fizemos, que fiz", completou.

De acordo com a estudante, as fotos seriam “retratos da doença social que nos afeta todos os dias”. “Os retratos foram tirados, e o choro dessa cidade enorme cabia então na minha mochila, e agora já chegou a todo canto desse sofrido pais.”

Relaxamento da prisão

O juiz do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), Marcos Vieira de Morais, determinou na quarta o relaxamento da prisão do casal.

Luana saiu da cadeia pública de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, por volta das 16h de quarta, segundo a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária). Humberto Caporalli deixou a Detenção Provisória, em Belém, na zona leste da capital, às 23h30.

Os jovens foram indiciados com base no art. 15 da Lei de Segurança Nacional, que diz que é crime "praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres" e prevê pena de reclusão de três a dez anos.

Os dois  também vão responder por dano ao patrimônio, incitação ao crime, associação criminosa e pichação de monumento urbano. Humberto foi indiciado ainda por posse ilegal de arma de fogo de uso restrito --na mochila dele foi encontrada uma bomba de gás usada.

'Luana não é terrorista'

Estudantes e professores da FASM (Faculdade Santa Marcelina), onde Luana estuda, divulgaram uma carta em apoio à colega.

"Luana, nossa colega, não é uma terrorista. (...) É intolerável sua prisão e de qualquer outro jovem que decida externar sua insatisfação quanto aos rumos políticos e sociais da sociedade em que vive", dizem os signatários da carta.

"A prisão de uma jovem e outros dez acusados, sob um dispositivo penal que remete ao quadro jurídico da Ditadura Civil-Militar, preocupa os corpos docente e discente dessa Faculdade", diz a carta.

O texto pede a liberdade de Luana para que ela possa voltar às aulas e faz críticas a medidas autoritárias que possam remeter à ditadura militar.

"Não vivemos mais sob um período de exceção e acreditamos que na democracia se educa em liberdade. Que nossa colega seja libertada e possa retornar para concluir o seu curso e contribuir para as necessárias transformações em nosso país".