Topo

"Não foi acidente: foi assassinato", diz pai de jovem atropelado e morto em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

23/10/2013 19h00

“Foram dois anos de espera por laudos que só confirmaram o que já sabíamos: não foi acidente, foi assassinato”. A declaração é do administrador de empresas Jairo Gurman, 56, pai do também administrador Vitor Gurman. O jovem morreu depois de ser atropelado pela nutricionista Gabriela Guerrero Pereira, em São Paulo, na madrugada de 23 de julho de 2011.

Gurman falou ao UOL nesta quarta-feira (23) –um dia depois de o Ministério Público estadual denunciar Gabriela por homicídio por dolo eventual, ou seja, ainda que sem desejar o resultado, assumiu, com sua conduta, o risco de morte da vítima.

Atingido quando andava em uma calçada da rua Natingui, Vitor, então com 24 anos, morreu seis dias depois do acidente. Conforme a denúncia assinada pelo promotor Rogério Leão Zagallo, a nutricionista dirigia o veículo em velocidade excessiva para o local, onde o máximo permitido era de 30 km/h, e sob o efeito de álcool, segundo o laudo de verificação de embriaguez.

Para o advogado de Gabriela, José Luís Oliveira Lima, não existe, nos autos, "nenhum elemento, prova ou indício" que justifique a denúncia por homicídio doloso. "Juridicamente a peça não tem consistência. No momento oportuno a Justiça irá afastá-la", declarou ao jornal O Estado de S.Paulo, ontem.

Leia, abaixo, o depoimento do pai de Vitor à reportagem.

*
“A gente começou a ver uma ver uma luz no fim do túnel, a criar um fio de esperança. E mesmo com toda essa demora –foram dois anos para os laudos técnicos serem entregues... isso traz um inconformismo, uma revolta muito grande. Porque lidamos com fatos comprovados.

Tudo isso que os peritos disseram –embriaguez da motorista, excesso de velocidade do carro dela [um Land Rover] –a gente já sabia. Ela atropelou meu filho pelas costas!

A grande luta obviamente não é trazer o Vitor de volta, mas luta contra a impunidade. E acredito que essa denúncia começou a abrir uma porta pra essa luta vingar.

A única preocupação é essa: quanto tempo ainda vai levar até haver uma punição? Entendo que ela [Gabriela] foi denunciada ontem e que a juíza [do 5º Tribunal do Júri da Capital] tem um tempo para apreciar a denúncia, que só então, se for aceitam, vira um processo.

Mas como temos um país com leis fracas e um sistema judicial pouco célere, isso só faz aumentar a angústia da família. Estamos tratando de uma coisa óbvia, um assassinato –aquilo não foi um acidente. Com isso, queremos que essa mulher seja presa.

Li na imprensa que ano passado tivemos 62 mil mortes de trânsito no Brasil – e um número que me deixou muito assustado: outras 350 mil pessoas que também sofreram esses acidentes ficaram inválidas permanentemente. Quando isso vai acabar? Por que a Justiça tarda tanto?

Cabe agora a essa mesma Justiça repensar. Esse tipo de coisa acontece no mundo todo; a  diferença no Brasil é a impunidade. Você bebe, mata uma pessoa e fica solto.

[O que mudou dois anos e três meses depois?]

É muito difícil traduzir isso em palavras, porque é algo que está no sentimento mais profundo do indivíduo.

Porque, se você perde pai ou mãe, fica órfão; se perde um cônjuge, fica viúvo. Para a perda de um filho não tem nome, só adjetivo: revoltante, horroroso, terrível...

As pessoas que podem falar e entender o que eu e a mãe do Vitor sentimos são as que sofrem esse tipo de perda.  Portanto, eu não gostaria que outras pessoas nos entendessem.

Não acredito que meu filho volte, mas quero fazer dessa minha militância uma homenagem para ele. Tentar ser uma pessoa melhor no mundo me ajuda a diminuir a dor. Mas preciso de apoio da Justiça para isso.”