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Ausência de agressão constitui prova contra mãe e padrasto de Joaquim, diz delegado

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

20/11/2013 12h22Atualizada em 20/11/2013 12h22

O fato de os exames do IML (Instituto Médico Legal), divulgados oficialmente no dia 18, não terem encontrado sinais de agressão ou esganadura no corpo de Joaquim Pontes Marques, 3, encontrado morto no último dia 10 no rio Pardo, em Barretos (423 km de São Paulo), constitui uma prova de que a mãe e o padrasto do menino são os autores do crime. 

A declaração é do delegado titular da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), Paulo Henrique Martins de Castro, que conduz a apuração do caso. O menino foi dado como desaparecido na madrugada do dia 5 pela mãe, a psicóloga Natália Pontes, 29, e pelo padrasto, o técnico em informática Guilherme Longo, 28. Eles estão presos desde o dia em que o corpo foi achado.

Longo afirmou à polícia que saiu de casa na madrugada do dia 5 para comprar drogas e deixou a porta da sala aberta, pela qual, supostamente, a criança saiu ou foi retirada por alguém. O portão da garagem, no entanto, teria sido fechado por ele. 

A mãe dormia num quarto ao lado do da criança e afirma não ter ouvido nada. O casal já depôs cinco vezes à polícia desde então, e as declarações vêm sendo consideradas contraditórias.

Para o delegado, não houve uma terceira pessoa na cena do crime e, de acordo com ele, a hipótese com a qual a polícia trabalha é de que o casal planejou o desaparecimento da criança.

“A única pessoa que estava naquela casa que, tenho certeza, é inocente, é o bebê de quatro meses do casal”, afirma Castro, em alusão ao filho de Natália e Longo.

Natália e o marido, no entanto, negam a autoria do crime. A polícia ainda procura saber qual teria sido a motivação da morte do menino, que era diabético e recebia doses diárias de insulina. Uma superdose da substância pode ter matado o garoto, suspeita a polícia.

A mãe, o padrasto, o bebê e Joaquim viviam numa casa no bairro Independência, de classe média, na zona norte de Ribeirão. O imóvel pertence ao pai do suspeito, Dimas Longo.

A polícia investiga se o avô teria colaborado na desaparição da criança, que teria sido jogada num córrego a 200 metros da residência. O curso d’água, indiretamente, se comunica com o rio Pardo.

O avô nega qualquer participação no caso e afirma que saiu de casa na noite do crime para saber se estava tudo bem com o filho, que, dias antes, havia “surtado” devido ao vício em drogas. As famílias moram na mesma rua.

A investigação da polícia depende ainda de algumas etapas para ser concluída. Entre elas estão a apuração do teor dos telefonemas feitos e recebidos pelo casal na véspera do desaparecimento de Joaquim, o resultado de exames das vísceras da criança, que estão sendo feitos na capital, e a reconstituição do caso, que pode ocorrer ainda nesta semana.

Professora

A reportagem do UOL apurou que, diferentemente do que foi oficialmente divulgado, a professora de Joaquim, no colégio Lacordaire, relatou à polícia que, no último dia em que o menino foi à escola, no final de outubro, ele se queixou “o dia todo” do padrasto. A versão até então era de que o garoto jamais reclamara de familiares.

De acordo com o depoimento da professora, Joaquim estava chateado porque o padrasto o teria impedido de ir à escola trajado de Homem Aranha. Foi a primeira vez que a professora ouviu o aluno se queixar de alguém da família.

A professora também relatou à polícia que, no período em que o aluno se ausentou da escola, a partir do dia 29 de outubro, telefonou todos os dias para a mãe dele para ter notícias de Joaquim. Mas a mãe não teria atendido às chamadas.

A profissional acabou tomando conhecimento da morte do aluno pela imprensa e foi ao velório dele, no dia 11, em São Joaquim da Barra (382 km de São Paulo), cidade dos avós maternos.

O delegado Paulo Henrique Martins de Castro confirmou o depoimento da professora sobre a queixa do garoto em relação ao padrasto, mas afirmou não se lembrar do relato de que a mãe não atendeu às chamadas da professora. “O depoimento dela foi formalmente registrado.”