Topo

Polícia investiga se homem acusado de cárcere privado da namorada em MG fez mais vítimas

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

04/02/2014 16h54

A Polícia Civil da cidade de Viçosa (246 km de Belo Horizonte) investiga se um homem preso na última sexta-feira (31) na localidade mineira, sob acusação de cárcere privado e lesões corporais contra a namorada, teria feito mais vítimas. No computador pessoal do homem, haveria fotos dele com outras mulheres, conforme revelou a polícia.

Segundo o inspetor Wilson Gurgel, o homem se apresentou como Renato Ferreira da Silva Júnior, 33, mas não há confirmação se essa seria a sua real identidade.

Ele somente foi preso após a mulher, doutoranda na Universidade Federal de Viçosa (UFV), ter fugido e revelado que há mais de um ano vem sendo mantida sob domínio do acusado, que teria prometido a ela matar os seus familiares se o caso viesse a público.

Segundo o inspetor, o homem agredia a namorada regularmente e a obrigava a usar lenços para esconder os hematomas. A justificativa para o adereço seria a conversão dela ao islã. A moça frequentava as dependências da universidade, mas tinha os horários controlados de maneira rígida pelo homem.

Conforme Gurgel, no dia 28 do mês passado, a vítima fugiu e se escondeu dentro da universidade. Em seguida, o suspeito acionou a polícia relatando o desaparecimento da companheira. Ao analisarem câmeras de segurança do entorno do prédio onde eles moravam, o policial disse tê-la saindo correndo do local.

Após buscas, a doutoranda foi localizada na unidade de ensino e contou a história aos policiais.

“Ela não aguentou mais a situação e fugiu. Ela estava debilitada emocionalmente e demonstrou ter muito medo dele. Ela nos contou ter certeza de que ele monitorava, por meio de outras pessoas, o que ela fazia na universidade, único local para onde ela tinha permissão para ir”, disse.


Relacionamento

Conforme a investigação, a moça, que tem 29 anos, é natural do Paraná e se mudou para Viçosa ao ingressar em doutorado da área de veterinária.

O relacionamento com o acusado, segundo a polícia, iniciou-se há quatro anos, durante um seminário realizado na universidade na qual ela fazia mestrado, no Paraná. Em seguida, os dois começaram a se falar por meio da internet, sendo que o caso evoluiu para namoro com visitas esporádicas dele à casa dos pais da moça, e dela à cidade do Rio de Janeiro, onde o suspeito morava.

A polícia afirmou que, nessas visitas, a moça nunca se encontrou com familiares do suspeito, sendo mantida em hotéis na cidade. Há um ano, os dois se mudaram para um apartamento no centro da cidade mineira.

“Esse rapaz já namorava com ela há mais tempo. Quando passaram a morar juntos na cidade, ele conseguiu, com o passar do tempo, desenvolver nela uma dependência psicológica dele muito grande, através de ameaças e agressões. Ele conseguiu um domínio quase que completo sobre ela, passando a controlar até as idas dela ao banheiro”, disse o inspetor.

Conforme a investigação, o valor da bolsa que a aluna recebia custeava as despesas do apartamento.

O inspetor ainda revelou que a moça teria sido vítima de uma suposta tentativa de homicídio.

“No dia 30 de julho do ano passado, ela chegou a cair da janela do apartamento deles, que fica no décimo andar do prédio. Mas a sorte foi que ela caiu na varanda de um apartamento do nono andar, logo abaixo do dela. Ela foi levada a um hospital e, quando a PM foi acionada, ela disse que tinha caído acidentalmente da janela”, contou.

De acordo com Gurgel, o preso disse aos pais da moça ser um oficial da Marinha. Já na cidade, ele se apresentava como capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

“A gente está levantando ainda a identidade dele. No documento de identidade que encontramos com ele, consta o nome de Renato Ferreira da Silva Júnior, mas não sabemos se esse documento é verdadeiro”, afirmou, para complementar em seguida: “ele será ouvido em cartório nesta quarta-feira [5]. Até então, ele se recusa a falar conosco e nenhum advogado se apresentou para defendê-lo”.

O homem está confinado, por força de um mandado de prisão preventiva, no presídio da cidade. O policial informou que algumas pessoas (vizinhos do casal) serão interrogadas a partir dessa terça-feira (4).