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Delegado quer quebrar sigilo telefônico de suspeito de ferir cinegrafista

Cinegrafista da "Band" é ferido por explosivo na cabeça durante ato na Central do Brasil, no centro do Rio - Agência O Globo
Cinegrafista da "Band" é ferido por explosivo na cabeça durante ato na Central do Brasil, no centro do Rio Imagem: Agência O Globo

Do UOL, no Rio

09/02/2014 14h57

O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª DP (São Cristóvão) e responsável pela investigação sobre a explosão que feriu o cinegrafista da "Band" Santiago Ilídio Andrade, 49, há três dias, no Rio de Janeiro, informou neste domingo (9) que pretende solicitar à Justiça a quebra de sigilo telefônico e de internet do estudante e tatuador Fábio Raposo, 22.

Preso nesta manhã na casa dos pais, na zona oeste da cidade, o jovem foi indiciado pelos crimes de tentativa de homicídio e explosão.

Segundo Luciano, o objetivo é apurar se o suspeito tem alguma relação com o homem, ainda não identificado, que recebeu o artefato explosivo das mãos de Raposo, durante manifestação contra o aumento da passagem de ônibus no Rio, e o acendeu a cerca de três metros do cinegrafista, que filmava o corre-corre na Central do Brasil, no centro da cidade.

Fotos e vídeos de profissionais de imprensa que estavam no protesto mostram que esse homem vestia camisa cinza e calça jeans.

PRINCIPAL SUSPEITO

  • Reprodução/TV Brasil

    Imagens da "TV Brasil" mostram um homem de camisa cinza e calça jeans correndo pela Central do Brasil. Para a Polícia Civil, ele foi o responsável por acender o rojão que feriu Santiago Ilídio Andrade

Além disso, os investigadores também querem cruzar informações --principalmente as que foram publicadas por Raposo nas redes sociais-- a fim de concluir se o tatuador era ou não adepto da tática anarquista black bloc, nomenclatura utilizada para designar os manifestantes que cobrem o rosto e se vestem de preto, e que quase sempre protagonizam confrontos com a Polícia Militar.

Em uma parede do prédio onde Raposo mora, estão pichadas as frases "black bloc" e "fuck the police", de acordo com o delegado.

Andrade foi atingido na cabeça, perdeu parte da orelha e teve afundamento do crânio. O cinegrafista da "Band" está em coma induzido e seu estado é considerado gravíssimo, segundo boletim médico do Hospital Municipal Souza Aguiar.

Polícia propõe delação premiada

O advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende Fábio Raposo, disse nesta manhã que está tentando convencer o estudante e tatuador a optar pela delação premiada. O depoimento do jovem já dura mais de três horas.

Imagens divulgadas pela "TV Brasil" mostram que o tatuador foi responsável por entregar o artefato explosivo a outro manifestante, que acendeu o material e o deixou no chão a cerca de três metros do cinegrafista.

Para o advogado, dado o grau de envolvimento do suspeito, a delação seria a melhor estratégia de defesa. "Ele está um pouco relutante, mas vamos chegar a isso", disse Nunes em entrevista à radio "CBN".

Investigação baseada em imagens

Fotos e vídeos registrados pelos profissionais de imprensa que trabalhavam no protesto contra o aumento da passagem de ônibus no Rio de Janeiro, na última quinta, na Central do Brasil, mostram diversos ângulos a explosão do artefato que feriu gravemente o cinegrafista da "Band".

A investigação da Polícia Civil do Rio avançou após a divulgação de imagens da "TV Brasil" que flagram a ação de dois suspeitos. Um deles se apresentou à polícia na madrugada de sábado (8). Até então, o delegado da 17ª DP trabalhava com a existência de apenas um suspeito.

Além do material jornalístico, os investigadores analisam imagens das câmeras de trânsito da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego) e do equipamento de segurança do CML (Comando Militar do Leste), situado próximo à Central do Brasil, onde Andrade foi atingido.

"Não tive intenção de machucar", diz suspeito

Identificado como coautor da explosão que feriu Santiago Ilídio Andrade, Fábio Raposo se apresentou na madrugada de sábado à Polícia Civil do Rio. Em entrevista à "Globo News", o suspeito disse que "não tinha a intenção de machucar nenhum repórter".

"Nas fotos que foram apresentadas nas mídias, era eu, sim. Eu estava de camisa, bermuda e tênis. Com as tatuagens. Sim, eu que passei o artefato. Mas o artefato não era meu. Eu quero deixar isso bem claro. (...) Eu vi um rapaz correndo e ele deixou uma bomba cair no chão. Eu peguei e fiquei com ela na mão. Nesse momento, outro cara veio e falou comigo: 'Passa para mim que eu jogo! Passa para mim que eu jogo!'. Foi só isso mesmo. Em momento algum, eu vou para as manifestações para quebrar as coisas, bater em policial ou jogar pedra", relatou Raposo.

Na mesma entrevista, o jovem acabou se contradizendo pouco depois ao declarar que não sabia que se tratava de um artefato explosivo logo após pegar o objeto do chão. Por um momento, na versão dele, disse achar que estaria "devolvendo o pertence de alguém".

"Foi um acaso. Também não acredito que ele [em referência ao homem que acendeu o rojão] fez isso por mal", disse.

Raposo declarou ainda que só procurou a Polícia Civil porque estava "assustado" com a repercussão do caso. "Minha foto foi divulgada em mídias internacionais. Inclusive, eu já recebi ligações de pessoas desconhecidas que pediram para eu assumir a responsabilidade", disse.

Questionado se conhecia o homem que acendeu o rojão, Raposo declarou não ter qualquer vínculo com o suspeito. "Não tenho a menor ideia de quem seja. Eu fui sozinho na manifestação. (...) Mas eu lembro que esse cara era bem alto e chamava bastante a atenção", respondeu.