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Maior chacina de Campinas completa 1 mês: 'Não temos resposta', diz pai

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

12/02/2014 11h29

A maior chacina da história de Campinas (a 99 km de São Paulo) completa um mês nesta quarta-feira (12) sem que familiares e amigos tenham respostas sobre o crime. A principal suspeita, até o momento, é de as doze mortes tenham sido uma retaliação ao assassinato de um policial militar durante um latrocínio (roubo seguido de morte).

No bairro Vida Nova, onde ocorreram cinco das 12 mortes, o clima ainda é de medo e apreensão. Os moradores se negam a falar sobre o caso.

"Meu filho morreu já faz um mês e até agora eu não sei o motivo", disse o pai de uma das vítimas, que preferiu não se identificar. "Ele era do bem, não fazia mal pra ninguém. Se foi e deixou uma filha pequena. A menina vive perguntando pelo pai e já não dorme à noite. Nós não temos resposta convincente nem pra gente, que é adulto. Imagine pra uma criança."

"É tudo muito demorado. Ele deixou a mulher grávida. E essa criança? Como vai ficar agora?", reclamou o amigo de uma outra vítima.

Cinco PMs são presos acusados de participar de chacina em Campinas

Segundo os investigadores, o caso é complexo e exige mais tempo para apuração. A Polícia Civil informou que vai pedir a prorrogação do inquérito para apurar as mortes em série, ocorridas entre a noite do dia 12 e a madrugada do dia 13 de janeiro, na região do Ouro Verde. O pedido para a prorrogação do inquérito será feito nos próximos dias e dará mais 90 dias para que se conclua o caso. O pedido precisa ser avaliado pelo Ministério Público (MP) e por um juiz criminal. 

De acordo com o MP, o andamento das investigações depende dos resultados de laudos, perícias e da conclusão sobre a morte do adolescente Joab Gama das Neves, de 17 anos, no Jardim Nova América. Ele foi o primeiro a ser morto. 

“São vários locais de crime, e há necessidade de perícias diferentes. Mas, com certeza, o esclarecimento da morte do Joab, o primeiro a ser morto, deve ajudar no esclarecimento das outras mortes”, disse o promotor Ricardo Silvares, que acompanha o caso.

Desde o início das investigações, ao menos 68 pessoas foram ouvidas, incluindo parentes de vítimas, PMs e comerciantes dos bairros onde ocorreram os crimes. Cinco policiais militares foram presos por suspeita de matar o menor

“A prisão dos PMs é a prova de que houve um avanço muito grande [a investigação]. Ainda não conseguimos reunir provas que relacionem este primeiro caso com os demais, mas não acreditamos em coincidência. Também não podemos afirmar que todos os crimes tenham sido cometidos pelas mesmas pessoas, mas a motivação provavelmente foi a mesma”, explicou.

Silvares também citou a falta de testemunhas na morte de Joabe para ajudar nas investigações. “Nas outras mortes tivemos algumas testemunhas, mas a dele foi difícil, porque ninguém viu. Entretanto, a morte dele está praticamente esclarecida. Infelizmente, o crime foi cometido de forma bastante covarde”, afirmou.

Há suspeita de que outros PMs do 47º batalhão de Campinas e também do Batalhão de Ações Especiais (Baep), que funciona como a Rota na capital, tenham envolvimento com os crimes.

A morte do PM que teria motivado a série de homicídios está praticamente esclarecida. Dois suspeitos foram detidos e, por enquanto, a polícia não vê relação entre eles e a chacina.

No último sábado (8), um outro policial foi assassinado na porta de sua casa na mesma região. A Polícia Civil apura se a morte foi uma vingança pela chacina. Os investigadores pediram ajuda do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do MP, para descobrir se os dois suspeitos presos pela morte do militar pertenciam a uma facção que estaria planejando ataques contra policiais em retaliação às chacinas.

No último dia 27, uma lista com os nomes dos 12 homens que morreram na chacina foi encontrada pela Polícia Militar com um suspeito de integrar uma facção criminosa. Ele e mais dois homens foram presos durante uma operação do Gaeco, com o apoio da PM.

Segundo o MP, os integrantes da facção estariam avaliando se algum dos mortos na chacina fazia parte da organização criminosa para fazer uma possível retaliação contra os autores dos crimes.