Topo

Suspeito ligou para colega e contou que "matou uma pessoa", diz delegado

Em imagem de arquivo, Caio Silva de Souza enfrenta funcionários da estação de trem Central do Brasil - Rudy Trindade / Frame / Agência O Globo
Em imagem de arquivo, Caio Silva de Souza enfrenta funcionários da estação de trem Central do Brasil Imagem: Rudy Trindade / Frame / Agência O Globo

Carolina Mazzi

Do UOL, no Rio

13/02/2014 16h33Atualizada em 13/02/2014 17h11

O delegado responsável pelas investigações sobre a morte do cinegrafista da "Band" Santiago Andrade, Maurício Luciano, da 17ª DP (São Cristóvão), afirmou na tarde desta quinta-feira (13) que um colega de trabalho do suspeito de lançar o rojão, Caio Silva de Souza, 22, disse ter recebido uma ligação dele no dia 6 de fevereiro, após a manifestação. "Ele falou que o Caio ligou pra ele por volta das 19h, ofegante, dizendo que matou uma pessoa", contou o delegado.

Veja as últimas imagens feitas por cinegrafista da Band

A testemunha, que depôs oficialmente hoje, teve sua identidade preservada. Segundo o delegado, esse é um dos indícios mais evidentes da culpabilidade dos suspeitos. "A importância desta relato é evidente, não tem o que discutir", disse o delegado, ressaltando ainda que a questão sobre quem acendeu o rojão não é relevante para a investigação, já que os dois respondem pelos mesmos crimes: homicídio qualificado pelo uso de artefato explosivo e explosão.

Veja o momento em que o cinegrafista é atingido

“Para a gente o que interessa é isso, essas provas abundantes contra ele. É tanto indicio, tanta prova contra esse cara”, afirmou Luciano. "Eles são coautores."

Conforme noticiou o jornal "Extra", Caio contou em depoimento que o tatuador Fábio Raposo, 22, foi quem acendeu o rojão que atingiu o rosto de Santiago. Ele diz ter apenas segurado o explosivo e colocado no chão.

O advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende os suspeitos, afirmou que se os dois começarem a se contradizer em depoimentos, pode abandonar o caso.

"Se começar a haver colisão entre eles, então fica difícil de exercer a defesa que eu quero. Eu tenho elementos para poder descaracterizar o enquadramento da autoridade policial, (...) mas esses elementos só são úteis se eles ficarem juntos", disse Nunes em entrevista à rádio "CBN".

Caio afirmou ainda que acredita que os partidos que levam bandeira são os mesmos que pagam os manifestantes. À polícia, já no final do depoimento de duas páginas, ele afirmou ainda que já viu as bandeiras do PSOL, PSTU e FIP (Frente Independente Popular) e estes seriam os financiadores. Os dois partidos políticos citados negam.

No mesmo depoimento, Caio diz que já foi convidado para participar de forma remunerada dos protestos. Segundo ele, pessoas aparecem no meio da manifestação e dizem "se você tiver com dificuldade financeira de voltar na próxima manifestação, nós pagamos o dinheiro da passagem". Além do dinheiro da passagem, também seriam oferecidos lanches e quentinhas.

O delegado afirmou que o pagamento para pessoas se manifestarem  não é crime, mas sim o financiamento para praticar atitudes violentas. Ele disse que não quer dar uma abordagem política à investigação e que não será o responsável por apurar essas denúncias.

O delegado afirmou ainda que o inquérito contra os suspeitos já está pronto e será encaminhado ao Ministério Público na sexta-feira (14). Com o encaminhamento, o juiz que analisar o caso já pode pedir prisão preventiva dos dois.

"Pena"

Pouco depois de chegar ao velório do marido, a assistente social e diretora de creche Arlita Andrade disse ter pena dos dois suspeitos de envolvimento no caso. "Todas as crianças que passaram por mim [na creche] não foram violentas. Tenho muita penas desses dois rapazes", declarou, antes de ser interrompida pelo abraço de um amigo.

A mulher de Santiago fez um apelo aos repórteres que cobrem o velório, muitos deles colegas e amigos do cinegrafista: "Queria pedir a todo mundo: por favor, sejam mais amigos, sejam mais tranquilos, tenham amor um pelo outro".

Arlita também falou sobre como lidava com o trabalho do marido. "Eu falava: 'poxa, amor, faz alguma coisa mais leve'. Aí ele falava: 'eu gosto de tiro, porrada e bomba'. O sonho dele era ser repórter cinematográfico."

Santiago "era um cara bem alegre, que brincava com todo mundo" e que não gostava de cobrir manifestações, segundo Edeilton Macedo, cinegrafista da Band há 13 anos. "Ele era muito precavido, cuidadoso, mas tinha até medo de cobrir protestos. E olhe que ele também cobria conflito em morros", disse Macedo.