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Rio teve mais ônibus queimados em 2 meses do que nos últimos anos

Moradores do Morro São João, no Engenho Novo, incendiaram 3 ônibus com o objetivo de protestar contra a morte de um jovem morador, baleado durante confronto entre PMs e traficantes de drogas da região - Alexandre Vieira/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Moradores do Morro São João, no Engenho Novo, incendiaram 3 ônibus com o objetivo de protestar contra a morte de um jovem morador, baleado durante confronto entre PMs e traficantes de drogas da região Imagem: Alexandre Vieira/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

27/02/2014 06h00

No Estado do Rio de Janeiro, 14 ônibus foram incendiados nos meses de janeiro e fevereiro de 2014, o que representa aumento de 133% em relação ao total de ocorrências semelhantes registradas em 2012 e 2013. Segundo dados da Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio), seis ônibus haviam sido incendiados no território fluminense em um período de 24 meses, sendo cinco no ano passado e apenas um em 2012.

Só nos dois primeiros meses deste ano, os veículos incendiados geraram prejuízo financeiro de mais de R$ 4,8 milhões para as empresas que operam linhas de ônibus no Estado, quase R$ 3 milhões a mais do que elas tiveram no acumulado dos anos anteriores. De 2000 até agora, já são 440 ônibus queimados no Rio, com prejuízo estimado de mais de R$ 88 milhões.

RELAÇÃO COM PROTESTOS

  • Thiago Lontra/Agência Globo

    O aumento do número de ônibus incendiados no Rio está relacionado com os recentes protestos de moradores de favelas da cidade, a exemplo da manifestação feita na comunidade Bateau Mouche, no dia 11 de fevereiro, em Jacarepaguá, na zona oeste. Na ocasião, um coletivo foi queimado

Os últimos casos ocorreram no domingo (23), quando três ônibus foram incendiados por uma multidão que desceu das favelas do Complexo do Lins, na zona norte do Rio. Os moradores protestavam contra a morte de uma criança de sete anos, atingida por um disparo cuja origem ainda não foi confirmada pela Polícia Civil.

No dia 18, um ônibus foi incendiado em um dos acessos à favela de Vila Kennedy, às margens da avenida Brasil, em Bangu, na zona oeste da cidade. Segundo a polícia, um grupo de pessoas montou barricadas no local, cercou o veículo e ateou fogo. Ninguém se feriu.

Uma semana antes, moradores do Morro São João, no Engenho Novo, zona norte, também incendiaram três ônibus com o objetivo de protestar contra a morte de um jovem morador, baleado durante confronto entre PMs e traficantes de drogas da região. Dois coletivos ficaram totalmente destruídos e um, parcialmente. As labaredas atingiram três lojas nos arredores, além de fios e cabos de energia, deixando a comunidade sem energia elétrica e telefone.

Já em Jacarepaguá, na zona oeste, um protesto de moradores das comunidades São José Operário, Covanca e Chacrinha --também revoltados com a morte de dois jovens durante uma operação da PM-- terminou com um ônibus queimado na rua Cândido Benício, no dia 11. Os manifestantes também puseram fogo em um banheiro químico. A Polícia Militar agiu lançando bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

Apesar da tendência de crescimento, a incidência de incêndio a ônibus no Estado é bem menor em comparação com os dados da última década. Entre os anos de 2000 e 2005, o Rio teve, em média, pelo menos 50 ônibus incendiados por ano. Após três anos em queda, entre 2006 e 2008, o índice voltou a crescer nos anos de 2009 (41 ônibus queimados) e 2010 (43).

Já em relação a depredações, a Fetranspor informou ter registrado sete casos em janeiro e fevereiro de 2014. No ano passado, 26 veículos foram alvos de depredação e cinco foram incendiados, sendo a maioria em outubro --mês em que ocorreram sucessivos confrontos entre a Polícia Militar e pessoas que participavam de manifestações.

Nos últimos 14 anos, de acordo com a Fetranspor, pelo menos 462 veículos de transporte coletivo foram depredados no Estado do Rio, o que gerou para as empresas prejuízo de aproximadamente R$ 20 milhões. Só no ano de 2004, quando ocorreram 103 casos de depredação, o prejuízo chegou a R$ 3,5 milhões --o maior anual registrado desde 2000. Somadas as perdas, por depredação e incêndio, o cálculo final de prejuízos supera os R$ 108 milhões.

43 coletivos incendiados em SP

Veja os Locais onde ônibus foram queimados em São Paulo em 2014

  • UOL

De acordo com a SPTrans (São Paulo Transporte), empresa da prefeitura que gerencia o sistema de ônibus da capital paulista, já são 43 coletivos queimados na cidade neste ano. Em todo o ano de 2013, a SPTrans registrou 65 ônibus incendiados.

O último caso ocorreu no domingo (23), quando um veículo foi na Avenida Alexios Jafet, no bairro Jaraguá, na zona norte de São Paulo. Segundo a Polícia Militar, um coquetel molotov foi jogado no interior do coletivo. Os criminosos fugiram. A PM não soube informar quantas pessoas estão envolvidas e qual foi a motivação. Não houve feridos e ninguém foi detido.

No fim de janeiro, reportagem da "Folha de S.Paulo" mostrou que, desde o início de 2013, nas 27 regiões metropolitanas das capitais no país, 230 ônibus haviam sido queimados e 3.111, depredados. Apenas em São Paulo, haviam sido registradas 1.666 ocorrências sobre coletivos incendiados e/ou depredados no mesmo período.