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Grupo invade aldeia indígena e queima 28 casas no sul da Bahia

Mário Bittencourt

Do UOL, em Vitória da Conquista (BA)

13/03/2014 17h04Atualizada em 14/03/2014 21h11

Um grupo de 18 homens armados invadiu a aldeia Encanto de Patioba, em Itabepi (584 km de Salvador), no extremo sul da Bahia, agrediu índios tupinambás e incendiou 28 casas. A região é alvo de conflitos por terra entre índios e produtores rurais. A invasão ocorreu na última sexta-feira (7), mas só foi divulgado nesta quinta (13) pela Funai (Fundação Nacional do Índio), por meio de nota à imprensa.

Segundo informações do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ligado à Igreja Católica, os indígenas teriam reconhecido dois ex-policiais entre os invasores.

De acordo com o relato dos integrantes da aldeia, o grupo matou a tiros todos os animais de criação, incluindo perto de 400 galinhas e perus.

“Foi um massacre. Eles queimaram tudo o que estava dentro das casas –e o que não queimaram, eles roubaram”, afirmou o cacique Astério Ferreira do Porto, 63. “Mataram cachorro a facão e atiraram nos perus. Destruíram nosso canavial, cataram nossas roças, nossas abóboras. Não sobrou nada”.

Violência
O cacique disse que foi jogado ao chão e algemado pelos homens. Em seguida, ele foi espancado. “Também xingaram muito a gente. Tudo pra gente entregar onde estavam as outras lideranças que eles estavam procurando”, declarou o indígena.

Antes da invasão, a maior parte da comunidade conseguiu fugir para o mato porque recebeu o aviso de que os homens estavam "descendo pra aldeia”.

Também com vários hematomas no corpo, principalmente nas costas e braços, a índia Eliete de Jesus Queiroz, 45, disse que levou um golpe tão forte no ouvido esquerdo que ainda sente tonturas e muita dor.

“Eles chegaram a ameaçar que iam estuprar nós”, contou ela. “Nossa sorte é que, depois que viram as crianças, eles pararam de bater em nós duas. Mas as crianças ficaram traumatizadas e logo depois o menino vomitou bastante”.

Dois índios que tinham espingardas de caça dentro de uma das casas ainda foram levados para a delegacia de Itapebi para serem denunciados por porte ilegal de arma de fogo, mas não havia delegado na unidade e eles acabaram sendo liberados.

Fuga
Nesta quinta-feira, um escrivão da delegacia confirmou o fato, mas disse que apenas o delegado Janssem Júnior, que não estava presente, poderia falar a respeito do assunto.

Em nota à imprensa, a Funai declarou que “essa é não é a primeira vez que a aldeia é atacada por supostos pistoleiros”. O local era habitado por cerca de 120 índios que, de acordo com a Funai, fugiram para as periferias de Itapebi e Eunápolis, cidade vizinha.

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), ao comentar o caso, disse que "onde não há lei há barbárie".

Os conflitos entre índios tupinambás e fazendeiros da região de Itapebi se intensificaram no início deste ano, quando eles invadiram oito fazendas, com o objetivo de pressionar a Funai a realizar estudos de demarcação da terra indígena.

Durante a série de ocupações, um trabalhador rural acabou morto com um tiro no pescoço, e casas das fazendas e veículos foram incendiados. Índios chegaram a ser detidos pela Polícia Federal, mas não houve indiciamentos.

A Polícia Federal informou que não está investigando o caso porque não foi comunicada sobre os crimes.