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Para estimular consumo, RN serve carne de jumento a autoridades

Jumentos confinados para o abate no Rio Grande do Norte - Divulgação
Jumentos confinados para o abate no Rio Grande do Norte Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

13/03/2014 06h00Atualizada em 31/03/2015 12h46

Um almoço com direito a picanha na brasa e filé ao molho madeira será servido a autoridades de Apodi (341 km de Natal) e região ao meio-dia desta quinta-feira (13). A diferença do cardápio é que não haverá carne de boi, mas de jumento.

A ideia de oferecer o almoço é do promotor Silvio Brito. Desde novembro, o representante do Ministério Público iniciou um trabalho com as polícias rodoviárias federal e estadual para recolher os jumentos que circulavam soltos pelas rodovias do Estado.

Abandonados por se tornarem obsoletos no sertão –normalmente substituídos por motos--, os jumentos se tornaram um problema de trânsito no sertão nordestino, causando acidentes e mortes.

Em menos de seis meses, 600 jumentos já foram apreendidos e estão confinados em uma fazenda. O problema é que a manutenção deles, além de ter um custo, deve se tornar inviável em breve por falta de espaço. Até o fim do ano devem ser mais de 2.000 no local, a levar em conta o ritmo de cerca de 40 apreensões por semana.

Diante do cenário, o promotor buscou ajuda de especialistas e garante que a melhor solução encontrada é o abate para consumo do jumento. Para os pratos a serem servidos nesta quinta, dois jumentos foram abatidos.

“Queremos mostrar às pessoas que a carne do jumento pode ser uma importante fonte nutricional, com elevado teor de proteína, baixo teor de gordura, macia e com gosto idêntico a do boi. Só que ela hoje é totalmente desprezada por questões culturais”, disse.

Entre as autoridades que devem ir ao almoço estão juízes, promotores, prefeitos, vereadores, jornalistas, professores e até o padre de Apodi. O público mais seleto é para dar confiança à população.

“O almoço é para que todos fiquem sabendo que a carna é própria para consumo. Até o padre, sensibilizado com a situação, virá para desmistificar a questão religiosa”, disse.

Durante o almoço, que acontecerá em um restaurante particular de Apodi, serão servidos pratos com dois tipos de carne para os degustantes. “Vamos fazer uma degustação comparativa, colocando lado a lado e assim vermos quem consegue identificar a diferença entre boi e jumento. Acredito que ninguém vai”, apostou.

A depender da aceitação, o promotor visualiza a possibilidade de servir a carne para detentos e, com um trabalho educativo, até inserir na merenda escolar. “Dependendo da receptividade, vamos trabalhar para ver como a gente consegue inserir esse alimento a outros públicos, mas sem obrigar ninguém a nada”, disse.

Segundo veterinária e o professor de inspeção Jean Berg da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, a carne do jumento é saudável e segura como qualquer carne para consumo humano.

“A carne do jumento e dos de equídeos já é consumida em vários países do mundo. O Brasil exporta carne desses animais, com matadouros no Paraná e Minas. Do ponto de vista de sanidade, são os mesmos riscos de comer qualquer outra carne: o animal tem que ser saudável, passar por avaliação veterinária antes e durante o abate”, afirmou.

Críticas

A degustação, porém, teve reações negativas de ambientalistas. A ONG DNA (Defesa da Natureza e dos Animais) divulgou manifesto, esta semana, contestando a ideia de transformar o jumento em alimento.

A entidade questiona se a legislação sanitária e para abate dos animais está sendo atendida e afirma que os jumentos precisam de dois anos para procriar, sendo uma cria a cada 12 meses. “Se só existir abate, em poucos anos eles estarão extintos”, afirmou.