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'Pensei que era uma carreta', diz homem arrastado no desabamento do moinho

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

12/04/2014 06h00

Na última segunda-feira (7), o pedreiro José Cícero Bernardo da Silva, 47, tinha acabado de fazer um reparo na parede de uma oficina mecânica, em frente ao moinho Motrisa, na avenida mais movimentada do bairro do Poço, em Maceió.

“Escutei um barulho e pensei que era uma carreta arrastando os carros na avenida. Quando olhei para trás, vi só amarelando o tempo e uma poeira grande", contou o pedreiro.

Bernardo e o filho Jonas Natanael dos Santos Feitosa, 17, foram dois dos cinco feridos arrastados por cerca de oito metros pela avalanche causada com o desabamento de um torre que armazenava 1.600 toneladas de trigo. Os dois precisaram ser hospitalizados, sendo Jonas o caso mais grave entre as vítimas do acidente. O adolescente está em coma induzido na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Geral do Estado, em Maceió.

As causas do acidente são investigadas pela polícia e pelo Ministério Público do Trabalho. Para o Corpo de Bombeiros, pela dimensão do acidente  foi um "milagre" não haver registro de mortes.

Preocupação

Mais que as dores causadas pelos ferimentos nas costas e no pescoço, Cícero Silva contou que sofre bem mais com a recuperação do filho, que o acompanhava na hora do desabamento da torre. “Eu tinha acabado de quebrar parte do teto porque a ambulância do Samu, sempre que ia lá, raspava no alto. Meu filho estava mais perto da porta e por isso se machucou mais”, disse.

Silva disse que lembra pouca coisa, após ver a poeira. “Desmaiei com a pancada. Fui arrastado por oito metros, junto com os carros que estavam lá. Quando acordei, lembrei logo de meu filho. Vi então que ele agonizava”, afirmou.

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Ajudante

Jonas Silva cursa o 9º ano do ensino fundamental e sempre acompanhava o pai nos serviços, atuante como ajudante. “Ele estuda à noite e para não ficar com a mente vazia, perguntei se queria ganhar um trocadinho. Ele aceitou e sempre me acompanhava nos serviços”, contou Cícero Silva.

Segundo informações do Hospital Geral do Estado, o adolescente está em estado grave na UTI. O pai disse que tem esperança em que o filho se recupere e fique bem. “Ele tem melhorado dia a dia. Tenho notado pela respiração dele, por mexer os pés e as mãos. O médico disse que ele está desacordado porque, se acordar, vai sentir muitas dores”, afirmou.

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Apoio

O pedreiro Cícero Silva também disse ao UOL que já foi procurado pela direção do moinho Motrisa para receber assistência. “Eles me chamaram para conversar. Eu não pedi dinheiro, quero a saúde do meu filho. Mas eu vivo de diárias do serviço e estou tomando remédio, estou todo doído. Quero que eles vejam isso para ser retribuído. Não precisa dinheiro, mas preciso de algumas coisas para casa. Passei a lista e eles prometeram ajudar”, afirmou.

A direção do moinho informou que vem dando toda assistência a pessoas feridas e desalojadas em consequência do acidente. Todos os casos estão sendo acompanhados e a empresa promete ressarcir os danos causados pelo acidente.