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Corregedoria apura se PMs filmaram suspeitos agonizando em São Paulo

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

15/04/2014 17h55Atualizada em 15/04/2014 20h08

A Corregedoria da PM-SP (Polícia Militar de São Paulo) investiga se houve participação de policiais militares na gravação e divulgação de um vídeo que mostra três suspeitos agonizando na Vila Curuçá, zona leste de São Paulo, após serem baleados por policiais na manhã do último dia 8.

Segundo a PM, eles teriam sido baleados durante perseguição após uma tentativa de roubo de um caminhão. Um dos suspeitos morreu, outro está internado, sob escolta, no hospital Santa Marcelina, também na zona leste da capital paulista, e o terceiro, que estava internado na mesma unidade, recebeu alta e permanece preso.

No vídeo, é possível ouvir conversas de rádio e um homem zombando dos suspeitos feridos. "Vai ficar famoso, ladrão, morrendo aqui”. Outro homem diz: "Essa p... não morre?". “Vai demorar aí, c..., para morrer?". 

Na gravação aparece uma perna com uma calça cinza-- semelhante à usada pela PM-- e um coturno. Por meio de assessoria de comunicação social, a PM disse que, se confirmada a participação dos policiais na gravação ou divulgação das imagens, eles poderão ser punidos.

A filmagem, de 43 segundos, foi compartilhada na página “Polícia Do Estado De São Paulo”, que exalta o trabalho de policiais e possui quase 20 mil seguidores.

A página não é oficial e não tem relação com a PM. Os criadores colocaram o símbolo da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) na foto do perfil e costumam compartilhar imagens de pessoas feridas ou mortas em confronto com a polícia.

Até 16h30 desta terça-feira (15), 761 usuários do Facebook tinham compartilhado e 847 curtiram o vídeo. Aqueles que criticaram a divulgação da filmagem foram repudiados por outros usuários que seguem o perfil. Por volta de 17h de hoje, o vídeo foi removido.

No mesmo perfil foram compartilhadas fotos da ocorrência, que mostram a presença de PMs do 28º e do 49º batalhões na cena do crime. 

Boletim de ocorrência

De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 22º DP, os policiais foram informados por um motorista de caminhão de que três indivíduos em um Uno preto praticaram uma tentativa de roubo. Os PMs relataram ter encontrado o veículo fazendo uma conversão na avenida Nordestina e o perseguiram. 

Após 15 minutos de fuga, o Uno teria ficado preso no trânsito. Segundo o relato dos PMs, neste momento o motorista deu ré veículo, que se chocou com o carro policial. Em seguida, os PMs disseram ter visto um dos suspeitos apontando uma arma e pediram para ele se render. Diante da negativa, os policiais teriam atirado contra os três.

No B.O., não há relato de que os suspeitos tenham atirado. Os policiais, no entanto, afirmaram que uma arma calibre 38, com numeração raspada, foi encontrada no interior do veículo com cinco "cartuchos picotados", o que indicaria que a arma dos suspeitos falhou. A perícia recolheu todos os objetos da cena do crime e fez exame residuográfico nas mãos dos suspeitos.

Ouvidoria

O vídeo chegou até a Ouvidoria da Polícia de São Paulo, que oficiou a Corregedoria para apurar a gravação e a divulgação das imagens. “O responsável precisa ser punido. Tem de responder sobre o próprio regulamento da PM, que proíbe isso aí. Além de ser abominável, causa repulsa na pessoa que assiste. Quem colocou isso aí faz apologia ao terror mórbido. É muito pesado”, afirmou o ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves.

A Ouvidoria pede que a PM tome providências para que o perfil onde o vídeo foi divulgado seja fechado. “Isso aí está denegrindo a imagem da corporação.”

PM investiga perfil

Em nota, a PM afirmou que o perfil “Polícia do Estado de São Paulo”, “não é um dos perfis oficiais da instituição, apresentando uma série de conteúdos impróprios” e que “já está em curso uma investigação sobre o perfil, seu conteúdo e administradores".

A corporação informou ainda que “todo policial militar, assim como qualquer cidadão, pode postar aquilo que bem entender nas redes sociais, podendo, conteúdo, ser responsabilidade no campo civil criminal e administrativo em caso de postagens que ofendam pessoas, instituições, que sejam contrárias à lei ou atentatórias à dignidade humana".