Por três quilos de peixe, família fica 24 horas na fila em MG
O aposentado José Cícero da Silva, 73, a mulher Maria de Fátima Raimundo, 60, e as filhas Elizabeth Raimunda Silva, 32, e Maria Franciele Silva, 26, ficaram 24 horas na fila à frente de um galpão, no bairro Bonfim, em Belo Horizonte, para receber três quilos do peixe chicharro (de tamanho pequeno, semelhante à sardinha), com preço médio de R$ 8 no comércio da capital mineira.
A distribuição em um galpão situado no ponto mais tradicional do comércio de peixes na capital mineira, toda Sexta-feira Santa, é feita há 24 anos pelo empresário Afonso Brade Teixeira, 60.
Ele não dá detalhes sobre a distribuição de peixe chicharro. “É uma promessa que fiz”, disse. Teixeira tampouco informa a quantidade de peixes distribuídos, nem diz quanto investe na ação beneficente. Segundo ele, essas revelações tirariam o sentido da caridade que faz e que aprendeu com o avô, quando ainda era criança em Moeda (62 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais.
“Meu avô distribuía de graça o leite que produzia na Sexta-Feira Santa. Eu distribuo peixe. Tenho satisfação nisso”, afirmou.
A reportagem do UOL verificou que a fila, de cerca de 300 metros de extensão, começou a se formar às 9h desta quinta-feira (17). A todo momento, uma pessoa chegava para receber a doação. Ou famílias inteiras.
“A pessoa recebe o peixe, entrega para outra pessoa da família que fica aguardando, e entra na fila de novo. Demora para acabar. Mas todo mundo que tiver na fila vai receber, ainda mais que a fila está menor este ano”, afirmou o empresário.
Espinho
Um casal e suas duas filhas esperaram 24 horas na fila do peixe. Eles chegaram por volta das 9h dessa quinta-feira (17) e receberam três quilos, um quilo de chicharro para o casal, e mais um quilo para cada uma das filhas.
A família mora na ocupação Rosa Leão, numa região conhecida como Zilah Spósito, no bairro Jaqueline, em Belo Horizonte, composta de terrenos particulares, áreas do município e uma APP (área de proteção ambiental). O acampamento Rosa Leão, com três anos de existência, abriga de 300 famílias, aproximadamente 1.500 pessoas.
“Não vou entrar na fila de novo. O velho [o marido] e os meninos [dois netos, ainda crianças] não podem comer. Tem muito espinho. Vai dar pra todo mundo”, disse a aposentada Maria de Fatima Raimundo.
Além das duas filhas que a acompanhavam, Maria de Fatima tem outra filha e dois netos, que foram poupados de aguardar na fila do peixe. “Vou fazer frito esse peixe”, afirmou.
Na família de sete membros, a renda é de dois salários mínimos. “Só tem a minha aposentadoria e a dele [o marido, José Cicero da Silva]. Nem casa a gente tem direito. Não dá para comprar peixe. Meu gasto com remédio é muito grande”, disse.
Evangélica, a aposentada disse que não sabia da tradição dos católicos em comer peixe na Sexta-Feira Santa. “É proibido comer carne? Não sabia disso, não. Tem muitos anos que venho aqui pegar o peixe nesse dia”.
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