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Para comerciantes, implosão da Perimetral traz prejuízo e impede "saideira"

Bernardo Tabak

Do UOL, no Rio

19/04/2014 06h00

A implosão de mais 300 metros do Elevado da Perimetral, às 7h deste domingo (20), na zona portuária do Rio de Janeiro, será prejudicial para o comércio da região, na avaliação de proprietários e funcionários de estabelecimentos situados na área da praça Mauá. No ano passado, na primeira etapa do processo de demolição do viaduto, foi implodido o trecho entre as ruas Professor Pereira Reis e Silvino Montenegro, totalizando 1.050 metros. Em substituição a Perimetral, a prefeitura está construindo uma via expressa que ligará o Aterro do Flamengo, na zona sul, à avenida Brasil e à ponte Rio-Niterói.

Os vizinhos do Elevado afirmam que o evento impedirá a tradicional "saideira", isto é, a última cerveja consumida por frequentadores de bares e casas noturnas antes da volta para casa. “O horário que vamos ter que fechar é um dos de maior movimento na semana”, declarou Auricélio de Oliveira Neris, gerente do Flórida Bar, um dos mais antigos da praça Mauá.

18.abr.2014 - A Prefeitura do Rio vai implodir, às 7h da manhã do dia 20 de abril, domingo de Páscoa, um trecho de 300 metros do viaduto da Perimetral, na altura da Praça Mauá. Em novembro do ano passado, foi implodido o primeiro trecho de 1.050 metros entre as ruas Professor Pereira Reis e Silvino Montenegro. Em fevereiro, começou a segunda etapa do processo de remoção da Perimetral com a retirada dos 1.163 metros por demolição a frio (desmonte) da Praça Mauá à Avenida General Justo - Divulgação/Prefeitura do Rio - Divulgação/Prefeitura do Rio
No domingo de Páscoa, "as pessoas devem evitar circular pela região entre 5h e 9h da manhã", afirmou o prefeito Eduardo Paes. A área diretamente afetada se dá entre o prédio da Polícia Federal, na altura da rua Edgar Gordilho, e do 1º Distrito Naval, em frente à Praça Mauá. As edificações situadas no entorno foram protegidos com tapumes e telas. O MAR (Museu de Arte do Rio) ficará fechado entre sábado (19) e quarta (23) por causa da intervenção
Imagem: Divulgação/Prefeitura do Rio

De acordo com a Cdurp (Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio), às 5h de domingo, aproximadamente 300 pessoas serão deslocadas de seus estabelecimentos, antes da detonação dos explosivos. Para o órgão, o número não chega a ser significativo, já que "a operação será feita em um domingo e durante um feriado, quando grande parte do comércio estará fechado”.

Porém, como a região tem uma vida noturna agitada, o horário do fim da madrugada é exatamente quando os bares recebem os frequentadores que saem de boates próximas. Além da "saideira", eles costumam matar a fome com sanduíches e petiscos.

"Só nessas quatro horas que vou fechar, quando temos o maior faturamento da noite, vou perder em torno de R$ 4.000”, afirmou Auricélio, que gerencia o Flórida desde 2005. O estabelecimento funciona 24 horas.

“Depois das boates, vem muita gente jogar sinuca e tomar a ‘saideira’. Vamos ter prejuízo neste fim de semana”, disse Fernando Mourão Brito, gerente do Bar JVM 53, mais conhecido como Bar do Pepé, que também funciona 24h.

As pessoas que serão retiradas do chamado perímetro de segurança --área que abrange um raio de 150 metros ao redor do trecho a ser implodido-- serão levadas para a Fundação Darcy Vargas, na Rua Souza e Silva, no bairro da Saúde. A região da praça Mauá deve ser liberada por volta das 9h, segundo a Cedurp.

Os gerentes de outros estabelecimentos estimam prejuízos menores, mas também vão ter que atrasar o horário de abertura neste domingo. É o caso da farmácia Drogarias Mundial e da Casa do Biscoito, que normalmente estão abertas a partir das 8h, mas vão abrir uma hora mais tarde: às 9h. Segundo os gerentes, o horário da manhã é o de menor movimento.

Também há reclamações em relação ao prazo do aviso dado para a interdição da região. “Uma funcionária só veio nos avisar quatro dias antes da implosão. E ainda por cima foi muito grossa. Poderiam ter falado com mais antecedência”, relatou Auricélio. “Há 15 dias nos avisaram do fechamento da área, dizendo que não poderia ficar ninguém”, disse Brito.

Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), acompanha os preparativos para a primeira etapa da implosão do Elevado da Perimetral - Divulgação/Prefeitura do Rio - Divulgação/Prefeitura do Rio
Segundo Paes, a implosão marcada para este domingo será "menos impactante". Para o prefeito, as obras de mobilidade "exigem uma dose de sacrifício da população". "Será um transtorno, mas será necessário", afirmou ele
Imagem: Divulgação/Prefeitura do Rio

A Cdurp, por sua vez, informou que todos os prédios dentro da área de risco foram visitados e receberam os avisos de interdição e folhetos informativos há cerca de um mês.

Primeira implosão

No ano passado, em novembro, a prefeitura demoliu em apenas cinco segundos o trecho do Elevado da Perimetral entre as ruas Professor Pereira Reis e Silvino Montenegro, cuja extensão é de 1.050 metros. Foram utilizados 1.200 kg de explosivo.

Na ocasião, a administração municipal utilizou 2.500 "colchões" de pneus e areia para absorver o impacto, além de instalar tapumes, telas e outros materiais nas edificações situadas no entorno.

Em entrevista coletiva logo após a implosão, o prefeito Eduardo Paes comemorou o sucesso da empreitada. "Aconteceu tudo dentro do esperado, é um dia muito importante na história da cidade. A gente reencontra o centro e a região portuária. A Perimetral representava o maior símbolo desse abandono. Ainda temos muito a fazer. Aqui novas implosões e desmontes virão. A gente superou o primeiro grande desafio", disse.