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PM do Rio abre sindicância para apurar morte de dançarino da Globo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

23/04/2014 15h24

As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro informaram que estão apurando as circunstâncias da morte de Douglas Rafael da Silva Pereira, 26, o dançarino DG do programa "Esquenta" da TV Globo, encontrado morto na manhã desta terça-feira (22) dentro de uma escola municipal no morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.

Na noite da segunda (21), houve troca de tiros entre policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) instalada na comunidade e criminosos. A Polícia Civil também investiga a morte de Edilson da Silva dos Santos, baleado com um tiro na cabeça, durante protesto pela morte de Douglas na noite de ontem.

Ontem, a Polícia Civil informou que a análise do Instituto Médico-Legal (IML) mostrou que as escoriações eram "compatíveis com morte ocasionada por queda". O laudo do IML, porém, diz que Douglas morreu por causa de uma perfuração no pulmão. O documento não detalha, no entanto, o que teria provocado o ferimento.

As investigações da Polícia Civil estão em andamento na 13ª DP (Ipanema), localizada em Copacabana, nas proximidades da comunidade onde os dois morreram. "Policiais militares estão sendo ouvidos e familiares e testemunhas estão sendo chamados para prestar depoimento. A delegacia aguarda ainda o resultado dos laudos das perícias para esclarecer a causa das mortes", informou a polícia. As investigações contam com o apoio da DH (Divisão de Homicídios) da Capital.

No fim da manhã desta quarta (23), a mãe de Doulgas, Maria de Fátima Silva, 56, foi até a delegacia e prestou depoimento até as 14h40. Ela disse ter certeza que o filho foi torturado por policiais da UPP e afirmou que vai processar o Estado.

O coordenador de Polícia Pacificadora, coronel Frederico Caldas, determinou a abertura de um procedimento para apurar as circunstâncias da morte de DG. Segundo ele, pelo menos oito PMs participavam da guarnição que entrou em confronto com bandidos na noite da segunda. "Eles não estão na condição de investigados. É uma investigação preliminar para esclarecer os fatos", afirmou.

Segundo Caldas, "ainda não é possível fazer uma ligação entre a troca de tiros ocorrida na madrugada [de segunda-feira] e o encontro do corpo de dançarino". "O relato dos policiais é que, quando eles chegaram para chegar um [informe do] Disque-Denúncia, eles foram recebidos a muitos tiros e decidiram recuar. Eles sequer conseguiram chegar ao local onde havia a indicação de que havia marginais", relatou o coronel. "Segundo os policiais, não houve qualquer abordagem no local da troca de tiros", afirmou.

De acordo com a assessoria de comunicação da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, o policiamento nas comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Ipanema, que é vizinha, continua reforçado por policiais de outras UPPs e das tropas especiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do BPChoque (Batalhão de Polícia de Choque).

Cena do crime

A mãe de Douglas afirmou que ouviu relatos de moradores do local que disseram ter visto policiais militares com luvas, entrando na creche antes da chegada da perícia da Polícia Civil e que por isso acredita que eles estavam tentando "limpar a cena do crime. "PM não é perito. Pra que estaria usando luva cirúrgica?", questionou.

Ela também afirmou que o corpo do filho estava molhado, assim como seus documentos, apesar de não haver chovido na segunda-feira.

A acusação de Maria de Fátima foi refutada pelo coronel Frederico Caldas. "O fato é que, quando identificou [ele não informou quem] o corpo de Douglas dentro da creche, foi feito contato com a diretora e os policiais não entraram na creche sem a presença dela. Os policiais civis e os policiais militares entraram juntos. A perícia de local foi feita e o corpo foi identificado pelos policiais civis", declarou o coordenador das UPPs.

"Não me parece razoável imaginar que tenha havido algum tipo de tentativa de mudar a cena do crime. Estou falando de crime, mas até levantando a possibilidade de ter sido um acidente, de ele ter caído de cima do muro", afirmou o coronel.

"A prova técnica, junto com o resultado da necropsia e especialmente o tempo em que ele estava lá, a hora em que ele foi morto, vão ser fundamentais para identificar algum tipo de conexão com a troca de tiros na noite anterior".

Caldas disse ainda que os policiais que participaram da troca de tiros não são os mesmos que acompanharam a perícia. "Os PMs do tiroteio saíram pela manhã, tiveram contato com o oficial e fizeram um relato da troca de tiros. Até então não se tinha notícia do corpo de Douglas. Até aquele momento não havia qualquer registro de qualquer incidente ou de pessoas feridas".