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Protesto de moradores de favela tem novo confronto em Copacabana

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

24/04/2014 16h43Atualizada em 24/04/2014 21h19

Moradores da favela Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio de Janeiro, e policiais militares entraram em confronto novamente na tarde desta quinta-feira (24), na avenida Nossa Senhora de Copacabana, no bairro de Copacabana. O tumulto ocorreu durante uma manifestação motivada pela morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, vítima de um tiroteio ocorrido na comunidade, no começo da semana.

O grupo caminhava em passeata, retornando ao Pavão-Pavãozinho, após o sepultamento do jovem, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Na altura da rua Sá Ferreira, esquina com a avenida Nossa Senhora de Copacabana, houve um desentendimento entre manifestantes e policiais. A PM utilizou bombas de gás para dispersar a multidão. Os moradores responderam lançando pedras e outros objetos.

A maioria dos comerciantes da região fechou as portas em razão do clima de insegurança, e o trânsito foi interditado em várias ruas. Por volta das 17h, quando os manifestantes já não estavam mais no local, o tráfego foi liberado na avenida Nossa Senhora de Copacabana e adjacências.

Após o confronto, homens do Batalhão de Choque foram acionados e chegaram ao local com fuzis. Uma guarnição subiu por um dos acessos ao Pavão-Pavãozinho, mas não há registro de tiroteio. Também não há informações sobre pessoas feridas e/ou detidas.

Enterrado com aplausos, fogos e pedidos de Justiça

O corpo do dançarino foi enterrado na tarde desta quinta-feira (24) no cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio.

A cerimônia ocorreu com um ostensivo esquema de policiamento no entorno do cemitério, o que gerou revolta por parte da família da vítima. "Eles mataram o meu filho e ainda têm coragem de vir para cá. Eu tenho nojo. Quem convidou eles? Eles querem confronto? Eu tenho o direito de me despedir do meu filho só com a família e os amigos dele", afirmou a mãe do rapaz, Maria de Fátima Silva.

Amigos e familiares proferiram palavras de ordem contra os policiais militares e, a todo momento, gritavam por justiça. Não houve tumulto. A mulher de DG, identificada apenas como Larissa, questionava: "O que eu vou dizer para a nossa filha? Levanta daí!". Ela foi amparada por amigos e familiares.

Mais cedo, um grupo de mais de 50 pessoas realizaram um protesto antes do enterro da vítima. Elas saíram em passeata da comunidade em direção ao cemitério.

No começo do ato, os manifestantes passaram pela creche onde DG foi encontrado morto. Nesse momento, uma equipe da Polícia Civil realizava uma diligência no local. Os policiais foram hostilizados pelo grupo, que repetiu o grito de "fora UPP". Também não houve tumulto.

Na avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, pelo menos 10 mototaxistas se juntaram ao protesto, que foi acompanhado de perto por policiais militares. Os PMs foram chamados de covardes pelos manifestantes. Algumas lojas fecharam as portas, mas não houve princípio de violência. 

Das janelas dos prédios da avenida vieram muitas demonstrações de apoio, ovacionadas pelos manifestantes. O grupo também gritou uma frase ouvida com frequência em manifestações públicas: "Sem hipocrisia, essa polícia mata pobre todo dia".

Por volta das 13h45, o grupo chegou ao local onde o corpo da vítima estava sendo velado. Eles foram recebidos com aplausos pelos amigos e parentes de DG que já se encontravam no cemitério.

A movimentação dos manifestantes pelas ruas da zona sul foi acompanhada de perto por um grupo de turistas canadenses curiosos. "Nunca tinha visto nada como isso. Quando estudamos o Brasil na escola não imaginei que a situação estava assim. Mas eu acho bom que eles se manifestem pelo que acreditam", afirmou Breanne Philips, 17, que passou nove dias no Rio de Janeiro e volta ao Canadá hoje.