Protesto contra adiamento da votação do Plano Diretor tem confronto em SP
Manifestação organizada por movimentos de moradia no centro de São Paulo para cobrar a aprovação do Plano Diretor Estratégico do município terminou em confusão entre o final da tarde e o início da noite desta terça-feira (29). O protesto foi realizado em frente à Câmara Municipal de São Paulo, no viaduto Jacareí, que ficou totalmente bloqueado para o trânsito nos dois sentidos. Os manifestantes colocaram fogo em caixas de papelão, pneus e banheiros químicos.
O Plano Diretor já foi aprovado em comissões e precisa ser votado em plenário. O plano cria regras para construções e para o uso do solo da cidade. Os movimentos de moradia cobram a votação da matéria, que amplia as Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), áreas destinadas exclusivamente à construção de habitações populares e outros equipamentos públicos.
A confusão começou por volta de 17h20, momentos após o presidente da Câmara Municipal, vereador José Américo (PT), anunciar o adiamento da votação do Plano Diretor para amanhã (30). A votação foi adiada pelos vereadores por falta de relatórios de cinco comissões de legalidade (Saúde, Educação, Transporte, Administração Pública e Finanças). Os relatórios precisam antes ser publicados no Diário Oficial da Cidade para o projeto ir ao plenário.
O Plano Diretor vai dar jeito em São Paulo?
Logo após o anúncio, os sem-teto que fechavam as duas vias do viaduto Jacareí começaram a atirar pedras contra o Palácio Anchieta, sede do Legislativo municipal. Em seguida, policiais militares do Batalhão de Choque lançaram bombas de gás contra os manifestantes, que montaram barricadas de fogo pelas ruas do centro.
Um restaurante ao lado da Câmara foi incendiado. Dentro do plenário, a sessão foi suspensa após alguns sem-teto começarem a lançar pedaços de madeira arrancados dos bancos das galerias nos vereadores. Um PM atingido com pedrada no rosto ficou ferido e foi socorrido ao pronto-socorro da Câmara.
O Batalhão de Choque usou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar os manifestantes na rua. A Força Tática e o helicóptero Águia também estiveram no local.
No início da noite, a maior parte dos manifestantes se dirigiu à praça da Sé, que fica a algumas quadras da Câmara. A assessoria de imprensa PM não tem informações sobre presos ou feridos.
Participam do ato a FLM (Frente de Lutas por Moradia) e UMM (União dos Movimentos de Moradia) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), entre outras organizações. Na semana passada, também houve protesto cobrando a aprovação do plano.
Na noite de hoje, outra manifestação, que critica a Copa do Mundo, está marcada para começar às 19h no Tatuapé. Os manifestantes também devem se dirigir ao centro da capital.
Tumulto dentro da Câmara
Vereadores de oposição acusam o prefeito Fernando Haddad (PT) pelo incidente --na semana passada Haddad subiu em um carro de som dos grupos de sem teto e pediu que eles pressionassem a Câmara a aprovar o novo Plano Diretor.
Como os vidros da fachada do Palácio Anchieta são blindados, os manifestantes tentavam atingir as janelas laterais. As salas das lideranças do PSDB e do PSB tiveram as janelas destruídas. Muitos funcionários do Legislativo se intoxicaram intoxicados com o cheiro de gás que invadiu o prédio.
"Podem tacar fogo nos pneus, quebrar as grades que vocês não ajudaram em nada!", disparou o presidente da Câmara ao suspender a sessão. "A história vai mostrar que vocês atrapalharam", emendou o presidente, enquanto bombas de gás explodiam do lado de fora do plenário
Nas redes sociais, o MTST responsabilizou os vereadores pelo confronto com a PM e com a Guarda Civil Metropolitana. "A culpa por esse incidente é dos vereadores que, no intuito de fazer uma votação na calada da noite, longe dos olhos de todos, adiaram a votação para a meia noite, o que revoltou muitos companheiros e companheiras que acompanham a sessão."
Adiamento
Sem os relatórios das comissões, os vereadores então decidiram fazer um rápido congresso de comissões, expediente comum feito em grandes votações de projetos de pouco impacto, como nomenclatura de vias públicas.
Mas aí o vereador Milton Leite (DEM) alertou os vereadores da Casa que os relatórios que seriam produzidos de improviso para o Plano Diretor precisavam ser publicados no Diário Oficial da Cidade antes da primeira votação. Alertado, o presidente comunicou que a votação seria realizada só na quarta.
Logo após a fala do presidente, o líder de governo Arselino Tatto (PT) discordou do adiamento e pediu que a votação fosse realizada, o que inflou os manifestantes do lado de fora e dentro do plenário. O bate-boca dos vereadores foi o estopim para o início da manifestação violenta dos sem-teto.
(Com Estadão Conteúdo).
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