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Com greve no Rio, diarista fica a pé: "Como vou pagar as contas?"

A cada dia que falta ao trabalho, Rosângela de Souza deixa de ganhar R$ 120 - Maria Luisa Melo/UOL
A cada dia que falta ao trabalho, Rosângela de Souza deixa de ganhar R$ 120 Imagem: Maria Luisa Melo/UOL

Maria Luísa Melo

Do UOL, no Rio

08/05/2014 09h37Atualizada em 09/05/2014 10h21

A paralisação dos rodoviários do Rio de Janeiro pegou de surpresa grande parte dos cariocas na manhã desta quinta-feira (8). A diarista Rosângela de Souza, 49, é uma das que não conseguiu chegar ao trabalho. Ela mora em Campo Grande e trabalha em Bangu, ambos na zona oeste. 

"Meu patrão me dá a passagem em Riocard, mas não tem ônibus. Eu já tentei pegar uma van, mas não dá nem para entrar, estão lotadas. O pior é que eu ganho R$ 120 de diária”, disse ela, que seguia esperando por um ônibus. “Se eu não conseguir chegar no trabalho, eu não vou receber. Se perco a diária, como vou pagar as contas no final do mês? Não ganho o suficiente para pegar um táxi."

No bairro de Campo Grande, as vans que seguem para Coelho Neto, na zona norte, estão lotadas, já que os ônibus que fazem o mesmo trajeto não estão circulando. As linhas são importantes principalmente para quem trabalha no centro do Rio de Janeiro, porque em Coelho Neto é possível embarcar no Metrô.

Carona

Mesmo com a greve tendo sido anunciada na noite da última quarta-feira (7), a técnica em contabilidade Soraia Fernandes, 42, decidiu tentar a sorte e saiu de casa bem cedo na tentativa de se deslocar de Campo Grande para Santa Cruz, bairros da zona oeste da capital fluminense. Sem ônibus nenhum nas ruas e com vans lotadas, Soraia teve que recorrer à carona na beira da estrada do Mendanha.

"Eu ouvi falar da greve ontem, mas não imaginei que realmente não tivesse nenhum ônibus na rua. É uma situação absurda", reclama. "Por sorte, consegui essa carona com um vizinho que passa aqui na estrada e pude chegar ao trabalho. Mas e quem não consegue carona, faz o que?".

Para a técnica, a população não pode mais ser prejudicada com a greve dos rodoviários. "Muita gente ficou a pé em plena quinta-feira, um dia útil, um dia de trabalho. Isso é um absurdo, revoltante. Só o povo é prejudicado com a greve dos motoristas, mais ninguém", diz. "A diarista que trabalha na minha casa e mora em Santa Cruz também não conseguiu chegar. E o meu filho tem curso pela manhã e também ficou a pé. Nossa sorte foi essa carona.”

Transtornos

O dia começou com garagens lotadas de ônibus e pontos cheios de passageiros. Segundo o Rio ônibus, sindicato das empresas de ônibus da cidade, mais de 8.700 ônibus na capital fluminense. Por mês, geralmente, são feitas 100 milhões de viagens, isto é, mais de 3 milhões de viagens por dia. Segundo as empresas, 30% da frota está circulando. Já o líder grevista, Helio Teodoro, diz que 80% dos motoristas aderiram à greve. Pelo menos 325 veículos de transporte coletivo foram depredados por grevistas, principalmente na zona oeste da cidade.

No começo da manhã, um protesto bloqueou por cerca de uma hora a pista lateral da avenida Brasil, em direção ao centro, em frente à Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos, na zona norte. O tráfego da via já foi liberado, segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio.

A greve foi decretada durante reunião realizada na noite de quarta-feira (7). O Sintraturb (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio de Janeiro), que representa 40 mil trabalhadores rodoviários, disse que não organizou a greve e, em nota, afirmou que considera a paralisação "uma atividade com fundo político".
 
Motoristas e cobradores em greve reivindicam aumento salarial maior que os 10% acordados entre o sindicato da categoria e as empresas de ônibus, o fim da dupla função e reajuste no valor da cesta básica, de R$ 150 para R$ 400.