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Se voltar a chover a média, Cantareira levará 5 anos para se recuperar

Represa Jaguarí, que integra Sistema Cantareira, armazena cada vez menos água - Sebastião Moreira/Efe - 6.mai.2014
Represa Jaguarí, que integra Sistema Cantareira, armazena cada vez menos água Imagem: Sebastião Moreira/Efe - 6.mai.2014

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

12/05/2014 06h00Atualizada em 13/05/2014 12h59

Se voltar a chover a média, o Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da região metropolitana de São Paulo, levará cinco anos para atingir 70% de sua capacidade de armazenamento de água, nível considerado bom. A estimativa é de um estudo técnico feito pelo Consórcio Intermunicipal PCJ, das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, segundo o coordenador de projetos do consórcio, Guilherme Valarini.

Ainda segundo o estudo, para atingir o índice de 50%, seria preciso chover mais em dois meses do que no ano passado inteiro. "É algo muito improvável. Poderia ocorrer, mas em um caso super extremo", afirma Valarini, que diz que com esse percentual "daria para atravessar o período de estiagem, de inverno, com tranquilidade".

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Nesta segunda-feira (12), o nível do Cantareira estava em 8,8%, o mais baixo da história do sistema, que existe desde 1973. No mesmo dia do ano passado, o índice era de 61,5%.

Situação "preocupante", "crítica" e "alarmante"

Especialistas ouvidos pela reportagem do UOL usaram os adjetivos "preocupante", "crítica" e "alarmante" para definir a atual situação do abastecimento de água da Grande São Paulo.

"Menos de 10% é alarmante, pois seguimos em período de estiagem, com poucas chuvas até outubro. E se em outubro e novembro não chover o esperado?", questiona Marcelo Pompêo, professor do departamento de ecologia da USP (Universidade de São Paulo).

Maria Aparecida Marin Morales, especialista em toxicologia ambiental do campus Rio Claro da Unesp (Universidade Estadual Paulista), reforça o alerta do pesquisador. Ela classifica a situação como "crítica".

"[O momento] preocupa ainda mais porque estamos sem previsão de chuvas que possam repor essa quantidade de água. Chuvas em grande volume estão previstas apenas para depois de setembro. Até lá, o que for cair não vai recuperar o sistema", avalia.

A pesquisadora defende a implantação do racionamento "mais para não piorar a situação porque não vai resolver o problema. Temos de reduzir o consumo para não zerar [o sistema] ".

Dejanira Franceschi de Angelis, professora do Departamento de Bioquímica e Microbiologia do campus Rio Claro da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) , avalia o momento como "preocupante" e insiste na necessidade de economizar água.

"A quantidade de água que está entrando não é suficiente para cobrir os gastos. Temos de arranjar formas de gastar menos. Mas gastar menos não é só fechar a torneira; é sujar menos roupa, sujar menos o meio ambiente, porque tudo isso implica em uso de água", detalha.

Diante da crise no abastecimento de água, o governo de São Paulo tem concedido desconto aos consumidores que economizam água e pretende, já a partir deste mês, cobrar multa de quem desperdiçar.

E para compensar o baixo nível do sistema, na próxima quinta-feira (15) a Sabesp pretende começar a retirar água do volume morto, que fica no fundo das represas, abaixo do nível de captação das comportas.

A previsão da companhia é extrair 200 bilhões de litros de água dos 400 bilhões de reserva, elevando em 18,5% o nível do sistema.

Pesquisadores entrevistados pelo UOL alertam que o tratamento inadequado do volume morto pode trazer riscos à saúde. Eles chamam a atenção também para os danos ambientais que o uso dessa água pode trazer para o meio ambiente.

A Sabesp alega que a escassez de água é devido à falta de chuvas e ao calor recorde que faz a água evaporar e eleva o consumo de água.