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Com medo de represálias, motoristas de ônibus trabalham sem uniforme no Rio

Gustavo Maia e Maria Luísa de Melo

Do UOL, no Rio

28/05/2014 09h17Atualizada em 28/05/2014 11h56

Apesar da baixa adesão à paralisação de 24 horas no Rio de Janeiro, motoristas, cobradores e fiscais trabalham sem uniforme, com medo de represálias por parte daqueles que aderiram à greve nesta quarta-feira (28). A situação foi verificada pela reportagem em Campo Grande, na zona oeste, e na Central do Brasil, no centro da cidade.

Sem uniforme, o rodoviário Henrique da Silva, 44, que faz a linha 366 (Campo Grande-Tiradentes), diz que não houve casos de pedradas nos veículos que foram para as ruas durante a paralisação, diferentemente das anteriores, quando centenas de ônibus foram depredados.

“Estamos sem uniforme por medo, claro. Mas até agora nenhum ônibus da redondeza foi apedrejado. Apesar de concordar com as reivindicações, preferi trabalhar para não ser descontado”, afirmou.

 Na Central do Brasil, pelo menos metade dos motoristas e cobradores trabalhavam sem uniforme. "Eles [os grevistas] poderiam dizer que a gente é fura-greve. É melhor sair descaracterizado para evitar qualquer problema", afirmou um motorista, que pediu para não ser identificado e vestia uma camisa vermelha. O rodoviário disse também não ter notícias de nenhuma represália na paralisação desta quarta.

Outro motorista, também sem uniforme, justificou a escolha da roupa pelo receio em ser hostilizado, como aconteceu com colegas nas paralisações das últimas semanas. "Não aconteceu comigo, mas eu não quis arriscar hoje", disse o rodoviário, que também pediu anonimato.

A prefeitura da capital fluminense informou que a Polícia Militar está na saída de garagens, nas estações do BRT Transoeste e nos terminais de ônibus para dar segurança àqueles que optaram por não aderir à paralisação.

Segundo estimativa do secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão, cerca de 80% dos ônibus circulam pela capital fluminense. Já o Rio Ônibus, sindicato das empresas, estima que 90% da frota está circulando sem problemas.

Pouca adesão

Em São Cristóvão, na zona norte, quem saía da estação de trem e de metrô enfrentava espera de cerca de meia hora, por volta das 7h, para conseguir pegar os ônibus, o que é considerado pelos passageiros como normal para o horário.

Na Central do Brasil, no centro da cidade, a espera demorava, em média, 15 minutos por volta das 7h30. O fluxo no metrô também era "normal", segundo uma funcionária que preferiu não se identificar.

Em Campo Grande, na zona oeste, apesar da maior movimentação de ônibus se comparado às outras duas paralisações, o tempo de espera para as linhas que levam até o centro da cidade chega a uma hora e meia, três vezes mais do que o normal. Com medo de represálias, motoristas, cobradores e fiscais trabalham sem uniforme. A linha 398 foi uma das mais prejudicadas. Já os ônibus do BRT Transoeste funcionam normalmente na Rodoviária de Campo Grande. Costumeiro ponto de aglomeração na zona oeste, a favela Rio das Pedras tinha, às 7h30, movimento reduzido.

Um dos serviços mais afetados é o Metrô na Superfície, serviço de ônibus que liga as estações de Botafogo e General Osório (Ipanema), à Gávea, na zona sul. De acordo com a concessionária, os motoristas não retiraram os veículos da garagem. A queixa principal dos passageiros é a de que eles têm de pagar duas passagens --a do bilhete do metrô e a do ônibus convencional.

Os rodoviários decidiram parar pela terceira vez em menos de um mês após audiência no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), na qual não entraram em acordo com as empresas de ônibus. Eles reivindicam aumento salarial de 40% (e não os 10% acordados entre o sindicato da categoria e as empresas de ônibus), o fim da dupla função e reajuste no valor da cesta básica –de R$ 150 para R$ 400.

O vice-presidente do Sintraturb Rio (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio), Sebastião José,  afirmou que a paralisação já foi considerada ilegal pela Justiça, por isso aconselha aos profissionais a não participarem do movimento, já que as empresas acenam com a possibilidade de demissão por justa causa.

“Dizer que se os garis conseguiram 37%, os rodoviários também teriam esse direito é no mínimo insano. Claro que o sindicato lutou e vai continuar lutando para um reajuste maior no próximo dissídio; mas no momento isso foi o melhor que conseguimos, já que foi o maior aumento da categoria em todo o país” explicou o vice-presidente.