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Morador de Itu (SP) percorre 30 km para tomar banho e lavar roupa

O representante comercial Roberto de Souza, 50, usa piscina de casa, em Itu (SP), para armazenar água. Ele não toma banho nela há quase um ano - Júnior Lago/UOL
O representante comercial Roberto de Souza, 50, usa piscina de casa, em Itu (SP), para armazenar água. Ele não toma banho nela há quase um ano Imagem: Júnior Lago/UOL

Fabiana Maranhão

Do UOL, em Itu (SP)

05/08/2014 06h00Atualizada em 05/08/2014 11h26

O representante comercial Roberto de Souza, 50, percorre cerca de 30 km entre Itu (101 km de São Paulo) e Indaiatuba (98 km da capital paulista) para lavar roupa na casa do irmão. "Lá não tem problema [de falta] de água. Há dois meses não uso a máquina de lavar aqui de casa", conta. Souza e a família também usam a casa do irmão para tomar banho.

O racionamento de água que afeta o município de Itu há seis meses fez surgir um fenômeno interessante: moradores têm buscado ajuda em cidades vizinhas para lavar roupa e até tomar banho.

No dia em que a reportagem do UOL esteve na casa do representante comercial, em um bairro que fica em uma parte alta da cidade, na última sexta-feira (1º), a água jorrava na piscina da casa. "Foram 11 dias sem água", relembra.

Souza diz que desde setembro não toma banho na piscina, que tem sido usada como reservatório. Segundo ele, a água chega barrenta. Para limpá-la, usa produtos químicos, como cloro. "Infelizmente não dá para lavar roupas, tomar banho, fazer comida devido aos produtos químicos. Nós aproveitamos para jogar [essa água] no banheiro", explica Rosana Metzner, mulher do representante comercial.

A gerente de restaurante Regina Ávila também tem precisado da ajuda da família para realizar atividades que dependem de água. Ela fala que toma banho na casa da mãe, em Salto (101 km de São Paulo e cerca de 10 km de Itu).

"Muita gente está se apoiando nas cidades vizinhas. [Essa crise no abastecimento] afeta todo mundo, sem distinção de classe social", afirma.

Reclamações

Moradores e comerciantes de Itu afirmam que problemas de abastecimento de água não são novidade na cidade, mas dizem que a situação este ano tem sido a pior dos últimos anos.

"Isso não é de hoje. Esse problema existe há pelo menos 15 anos. Mas este ano está crítico. Acredito que faltou planejamento para evitar que isso acontecesse", opina Sérgio Ricardo, dono de um lava-jato.

Para o aposentado Benedito Darci, 73, "a cidade foi crescendo, mas não houve investimento [na área de abastecimento]". "Já teve ano que faltou [água] e eles nunca fizeram nada", critica a dona de casa Maria Helena Santana, 49.

O marido dela, o autônomo José Luiz Lopes, 59,  questiona: "Que custava furar poço artesiano para reforçar [o estoque de água]?".

Em nota, a Prefeitura de Itu informou que "ao contrário do alegado, a prefeitura se planejou para garantir o abastecimento, tanto que realizou a concessão dos serviços de água e esgoto, garantindo ao longo dos últimos sete anos o fornecimento regular. No entanto, passamos por uma seca atípica, gerando uma necessidade acima de qualquer expectativa".