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Contra violência, ciclistas fazem grupos para treinar na Floresta da Tijuca

Caetano Manenti

Do UOL, no Rio

15/08/2014 11h26

O estupro de uma mulher próximo ao mirante da Vista Chinesa na tarde de 4 de agosto traz à tona o sentimento de insegurança dos frequentadores do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, o parque nacional mais visitado do país.

Segundo a administração, foram 13 as ocorrências registradas dentro do limite do parque em 2014. Além do estupro, foram 11 assaltos (oito deles durante a Copa do Mundo) e duas mortes por queda.

A sensação de medo da violência acomete especialmente quem se desloca por áreas mais afastadas do parque, caso dos ciclistas, que têm no trajeto de sinuosas estradas um templo à prática do mountain bike.

Por conta disso, as jornadas solitárias vêm sendo substituídas por excursões em grupo. "Eu já tive um caso de roubo e fiquei com receio de subir. Passei a esperar por alguém para subir junto. Aí, me acostumei, passou o medo”, disse Vítor Sawczuk. “Depois deste caso de estupro, é a primeira vez que eu subo e volta um receio, sim."

Renata Nobre também já mudou os hábitos por conta do temor. "No fim do ano passado, houve casos de assaltos. Agora, esse estupro. Então, a gente passou a vir em grupo”, contou. “Não dá para deixar de vir.” Sawczuk pede patrulhamento de moto, de maior mobilidade, enquanto Renata cobra presença policial na parte mais alta da floresta.

Na última quarta-feira (13), uma atleta treinava acompanhada por um guarda-costas em uma moto para evitar crimes. “Quem treina muito cedo fica com receio, mas está tranquilo agora. Até aumentaram o policiamento”, afirmou Júnior Guimarães, treinador da ciclista.

A reportagem do UOL circulou por cerca de três horas pela região, quando apenas um carro da PM no trajeto de 3,5 km entre a entrada do parque e a Vista Chinesa. Os policiais que estavam no veículo, porém, garantiram que o policiamento é constante até o fim da tarde.

Dividem a tarefa do patrulhamento a Polícia Militar no combate aos crimes, a Guarda Municipal no apoio ao turista e os seguranças terceirizados do parque nas guaritas.

Para os moradores, familiarizados com a região, as ocorrências violentas não chegam a assustar. “Apesar do que ocorreu, ainda me sinto seguro. Chego e saio à noite sem problemas aqui há mais de 30 anos”, diz Alexandre Ribas, vizinho da guarita de entrada do parque pelo bairro Jardim Botânico, na zona sul.

“Aqui não tem nada demais, não tem boca de fumo. Até o ar é mais leve. Não tem aquele clima pesado de cidade”, relata Alex Nunes, que mora há 45 anos na região do Horto e aproveita o sucesso das cachoeiras da floresta para vender bebidas dentro do parque. Ele só demonstra temor ao falar dos animais: “Quando chove muito, desce pelo rio lagarto, tatu, gambá, cobra”.

Quando anoitece, os engarrafamentos têm levado motoristas a provar o próprio temor pela floresta. Afinal, pode ser mais rápido ir do Jardim Botânico à Barra, por exemplo, por dentro do parque. Pela segurança, é comum que motoristas mantenham curta distância entre os carros, como numa caravana.