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RJ: Vamos ter que rezar, diz moradora de bairro de luxo sobre obra em túnel

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

28/08/2014 06h00

Previstas entre as obras de duplicação do Elevado do Joá, no Rio de Janeiro, as detonações em rocha para a construção de dois novos túneis na região ainda não começaram, mas já são motivo de dor de cabeça para moradores da Joatinga, bairro conhecido por suas luxuosas mansões, na zona oeste da cidade. O Elevado do Joá é uma das mais importantes vias de ligação entre São Conrado, na zona sul, e a Barra da Tijuca, na zona oeste.

"Pelo alto valor das casas daqui, eu não acredito que, se acontecer alguma coisa, nós iremos ganhar alguma indenização. Então nós vamos ter que rezar pra que não aconteça nada", afirma a dentista Luisa Medeiros, 30, que mora há quatro anos no local, com o marido e a filha. “O nosso maior receio é que as detonações abalem a estrutura da nossa casa, que fica sobre a rocha.”

A prefeitura informa que vistorias cautelares já começaram a ser feitas em 364 casas da região, para que anormalidades pré-existentes sejam registradas, e que as detonações não preveem danos aos imóveis.

"Os explosivos serão colocados em mosaicos feitos na pedra, e o material detonado será retirado com a escavadeira. Não vai haver muito impacto. As vistorias estão sendo realizadas mais por precaução", declara o subprefeito da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, Alex Costa, que se reuniu com moradores da região afetada no último mês.

Cada proprietário ficará com uma cópia do laudo das vistorias realizadas por empresas contratadas pela construtora Odebrecht, que executa o projeto. Até o momento, 126 casas foram checadas.

Segundo a Geo-Rio, órgão da SMO (Secretaria Municipal de Obras) responsável pela execução do projeto, as obras de duplicação do Elevado do Joá --que incluem a construção de um viaduto, um elevado, uma ponte, uma ciclovia e o alargamento de vias-- começaram no último dia 20 de junho e têm prazo de execução de 21 meses, devendo ser concluídas, portanto, até março de 2016.

As intervenções, incluídas como uma das "soluções viárias" para a cidade no projeto de legado dos Jogos Olímpicos do Rio, estão orçadas em aproximadamente R$ 458 milhões. Os recursos são federais, com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

De acordo com a fundação municipal, o cronograma das detonações para a criação dos dois novos túneis, paralelos aos dois já existentes, "ainda não foi fechado". O presidente da Sajo (Sociedade dos Amigos da Joatinga), Gilberto Almeida, no entanto, conta que já foi informado pela Geo-Rio que o uso de dinamite nas rochas vai começar a partir do mês de novembro e ocorrerá ao longo de seis meses, com uma detonação diária, por volta das 12h. Almeida defende que "os incômodos poderão até ocorrer, mas os transtornos são necessários para se obter a mais-valia no final".


Em nota, a SMO informou ainda que, durante a execução das obras, "não haverá necessidade de interdições nas faixas já existentes". Segundo o órgão municipal, no momento, estão sendo realizadas "a limpeza nos emboques dos túneis e terraplanagens, além de sondagens do solo pra o detalhamento das fundações".

Preocupação

Localizada em um dos condomínios de luxo da Joatinga, a casa de três andares da dentista Luisa Medeiros vai começar a passar por reformas a partir desta semana. As obras têm duração prevista de um ano, segundo ela, e ganharam outro motivo para preocupação com as detonações.

"Quando estávamos planejando a reforma da casa, tivemos que mandar fazer um estudo geológico e fomos informados de que o imóvel não fica sobre uma rocha firme, e sim 'podre', que esfarela. Para fazer a nossa obra, não teria problema, mas temos medo que, por causa dessas detonações, a gente não consiga fazer o que a gente quer aqui na casa", diz Luisa.

Há cerca de um mês, a Odebrecht e a Geo-Rio colocaram um posto de informações em um contêiner dentro do condomínio onde fica a Sajo e onde moram Luisa e Gilberto. "Isso ajudou a elucidar as dúvidas dos moradores, a tranquilizar. Mas, quando as detonações começarem, imagino que as reações vão aflorar ainda mais", declara o presidente da associação de moradores.


Moradora da Joatinga há 32 anos, a professora universitária aposentada Letícia Mayr, 69, conta que pensava que não se faziam mais detonações como as que serão feitas na rocha que fica a frente da sua varanda.

"Achava que agora faziam com o tal 'tatuzão' das obras do metrô, mas, a princípio, acho que eles não vão fazer besteira. O que a gente pode fazer é confiar", diz Letícia.

Na opinião dela, o maior problema a ser enfrentado pelos executores da obra será o tráfego intenso de veículos na região, que fica constantemente engarrafada. "Eu não queria estar na pele deles.”