Topo

Facção criminosa faz rifas para financiar mortes de PMs em Piracicaba (SP)

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

12/09/2014 15h32Atualizada em 13/09/2014 10h27

Para financiar ataques contra policiais militares e organizar ações na região de Piracicaba (a 160 km da capital paulista), o crime organizado utilizou expedientes como rifas, cobrança de mensalidade e controle direto do tráfico de drogas. A informação consta de um inquérito do Ministério Público que investiga ataques contra policiais na cidade e que captou, através de escutas telefônicas, a forma de atuação de bandidos. A investigação foi conduzida pela Polícia Civil.

"Fizemos uma interceptação de ligações de integrantes do PCC e descobrimos as ações que eles desenvolveram em Piracicaba e região. Eles falaram abertamente na execução dos policiais e nas formas de financiamento, que incluíam as rifas e as mensalidades”, disse o promotor Aluisio Antônio Maciel Neto.

Segundo o MP, as rifas, utilizadas para angariar fundos para as ações, tinham custo de R$ 45 e eram vendidas a familiares de presos e integrantes da facção. Imóveis e veículos eram os prêmios. Cada integrante tinha a obrigação de comprar 30 números, o que significava renda de R$ 1.350 para o crime organizado.

“A rifa é mais uma fonte de renda para a facção e é oferecida entre integrantes, criminosos simpatizantes (companheiros) e familiares”, diz trecho de documento do PCC conseguido pelo MP durante as investigações. As regras para a prática eram disciplinadas.

Os sorteios, bimestrais, incluíam casas, apartamentos, motos e carros como prêmios. “Nessa rifa específica [descoberta na investigação], eram cinco prêmios. O primeiro era uma casa no valor de R$ 240 mil, comprada em Piracicaba. O segundo era um Hyundai HB20 e terceiro, um Classic”, contou o promotor. “Além disso, havia outros dois veículos como quarto e quinto prêmios”, informou o promotor Maciel Neto.

Mensalidade

Além de comprar a rifa, cada integrante da organização tinha a obrigação de pagar a mensalidade de R$ 900 para a facção, chamada de "cebola" pelos criminosos. Segundo o MP, esse valor em Piracicaba era maior que a média cobrada pelo PCC no Estado, que é de R$ 650.

“Esse era o sistema de funcionamento que eles usam em boa parte das cidades de São Paulo. Com esse dinheiro, compravam drogas, organizavam assaltos e também as execuções de policiais”, disse Maciel Neto. Segundo as investigações, os prêmios prometidos nessa rifa tinham valor aproximado de R$ 500 mil.

O MP denunciou 11 pessoas que, de acordo com as investigações, integram o PCC na cidade. Dez deles também foram acusados pela morte do sargento Arnaldo Francisco de Brito, alvo de uma emboscada em que levou 13 tiros no dia 14 de junho. Ele morreu oito dias depois.

Segundo a denúncia, dez pessoas que integram a cúpula do PCC na cidade eram responsáveis por planejar a execução de policiais militares. Um dos criminosos, que estava preso na ocasião, ficou de fora dessa acusação. Todos eles estão presos preventivamente no Centro de Detenção Provisória de Piracicaba. Se forem condenados, as penas podem chegar a 38 anos de prisão.

Além desse homicídio, o MP também encontrou evidências de que o PCC havia planejado um segundo ataque, ocorrido em 25 de agosto, quando um policial levou um tiro na cabeça. O oficial foi socorrido, passou por uma série de cirurgias e está internado em estado grave. Segundo o MP, os dois atentados seriam uma represália da organização à morte de um integrante, dois dias antes do atentado contra Brito.

O MP ofereceu denúncia contra Adalberto Salomão Rodrigues, Gláucio Rogério Onishi Serinoli, Celso Eder de Alcântara, o Veloster, Wellington Rodrigo Sápia, o Branco, Cipriano Romualdo de Almeida, o Negão, Carlos Fernando da Silva Venâncio, o Buiu, Antonio Mariano da Silva Filho, Mauriki Raoilson Vivaldo da Silva, Antonio Jardel Simão dos Santos e Ademar Garcia Arrabal por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe, por recurso que teria impossibilitado a defesa da vítima e por integrarem a organização criminosa. Além deles, Alan Felipe Souza de Oliveira também foi denunciado por supostamente integrar a facção.