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Comissão Nacional da Verdade ouve vítimas da ditadura em Marabá (PA)

Maíra Heinen

Da Agência Brasil, em Brasília

16/09/2014 22h11

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) ouviu nesta terça-feira (16), em Marabá, no Pará, mais depoimentos de vítimas da ditadura militar na região. Pela manhã, os irmãos Ivan Jorge Dias e Ivaldo José Dias guiaram o grupo pelo Cemitério da Saudade, relatando a existência de ossadas de guerrilheiros presos à época. O próprio cemitério, segundo eles, surgiu com os enterros dos corpos, clandestinamente.

Jorge e Ivaldo - este mais conhecido como Juca - nasceram no Rio de Janeiro e foram para o Pará em 1972, com a intenção de adquirir terras na região. Quando chegaram ao estado logo foram capturados. Eles despertaram a desconfiança dos homens do Exército por serem fisicamente diferentes dos paraenses. Os irmãos foram torturados física e psicologicamente e depois obrigados a carregar os corpos para o local. Durante a visita, eles apontaram os lugares onde possivelmente estariam as ossadas. Cerca de 15 mortos foram deixados por Jorge e Juca no cemitério, por ordem dos militares.

Depois do cemitério, os membros da CNV seguiram para a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), onde outra vítima contou as torturas que sofreu simplesmente por conhecer um guerrilheiro conhecido como Oswaldão. Abel Honorato estava emocionado e não conseguiu relatar com muitos detalhes os tipos de violência que sofreu na Casa Azul, mas disse que até sua família foi presa, sofrendo humilhações e torturas psicológicas.

Durante a audiência, a comissão destacou que ainda se preocupa muito com a região, onde ameaças e pressões veladas ainda existem contra quem colabora com as comissões Nacional e Estadual da Verdade. O próprio Juca contou que recentemente sofreu ameaças de uma pessoa das Forças Armadas por fazer relatos às comissões, e por isso ainda sente muito medo. Ele não citou nomes.

Com o encerramento dos trabalhos da CNV, dia 16 de dezembro, algumas investigações sobre a Guerrilha do Araguaia serão repassadas à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Sobre a Casa Azul, local de tortura na época, o reitor da Unifesspa, Maurílio de Abreu Monteiro, relatou que a universidade tem intenção de transformar o local em uma espécie de museu, em memória das vítimas da violência durante a didatura militar.