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Paulistanos relatam "clima de guerra" no centro de SP durante confronto

Gil Alessi

Do UOL, em São Paulo

16/09/2014 12h44

Paulistanos que trabalham na região central de São Paulo relataram “um clima de guerra” na manhã desta terça-feira (16), quando policiais e manifestantes entraram em confronto durante uma reintegração de posse na avenida São João.

“Vim trabalhar e, quando cheguei, me deparei com esse cenário de guerra. Tudo fechado e tudo quebrado”, afirma Leonildo Silva de Jesus, 26, comerciante. “Saí do metrô e já vi a correria das pessoas voltando para a estação, e um monte de bomba explodindo”, afirmou.

Para Luzana Vieira, 28, “mandar as pessoas irem embora e despachar como animal não está certo”. De acordo com ela, que trabalha como caixa em uma agência da Caixa Econômica Federal, “ficamos todos com medo quando começou a confusão, abaixamos as portas e saímos. Não tinha como ficar lá dentro”, afirmou, enquanto buscava refúgio estação República do metrô.

Incêndio em ônibus

Até as 12h, a maioria das lojas no entorno das avenidas Ipiranga e São João continuavam fechadas. Um ônibus e uma cabine de controle da SPTrans foram incendiados na região.

O motorista de ônibus Antônio Leite, 60, afirmou que por volta das 7h40 ele chegou ao largo Paissandu, no local da confusão, e um grupo de manifestantes que fugia das bombas da polícia invadiu o veículo e roubou a chave.

"Por volta das 9h, chegou uma turma jogando álcool nos bancos do coletivo. Felizmente, não deu tempo de eles incendiarem”, afirmou o motorista. Segundo ele, "dezenas" de ônibus tiveram as chaves roubadas durante a confusão.

Leite afirmou que não ficou nervoso, já que “isso já me aconteceu outras duas vezes”. “É uma palhaçada. O centro de São Paulo parou por causa de um prédio”, reclamou.

"Truculência"

Para os moradores da ocupação do prédio, houve truculência por parte da polícia. “Estávamos todos na rua de forma pacífica até que houve uma discordância com o comandante do Choque [batalhão da PM] e eles avançaram, nos empurrando no sentido dos Correios [na região do Vale do Anhangabaú]", afirmou Bruno Matheus Santiago, de 19 anos, que morava há cinco no local.

Outro morador que não quis se identificar disse que “a polícia nos trata como traficantes e não como um movimento social”. Segundo relatos de pessoas ligadas ao movimento, a confusão começou depois que balas de borracha foram disparadas contra um casal que estava em frente ao prédio.

Segundo o coronel Glauco Silva de Carvalho, que comanda a operação, a reação da PM ocorreu após os moradores atirarem objetos nos policiais que buscavam remover as famílias. Dois policiais militares ficaram feridos e foram socorridos.

Já de acordo com o comandante da Tropa de Choque, coronel Nivaldo César Restivo, o tumulto e a confusão verificados no centro posteriormente podem não estar ligados diretamente aos movimentos e à reintegração de posse. Para ele, a confusão pode ter sido promovida por pessoas que se aproveitaram do ambiente para promover saques em lojas.

“Ainda observamos alguns pontos isolados com grupos menores que estão tentado promover saques, furtos e roubos na região, mas estamos atentos, e toda nossa tropa está circulando na região para evitar isso”, disse o coronel Restivo.O confronto deixou as ruas desertas na região do Vale do Anhangabaú e um rastro de lixo. Lixeiras foram arrebentadas, e manifestantes atearam fogo em placas e sacos de lixo para formar barricadas e tentar conter o avanço da PM.

Até o momento, 70 pessoas foram detidas e encaminhadas ao 3º DP (Campos Elíseos), segundo a Secretaria da Segurança Pública.

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