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"Em SP, o que é branco é leite", diz promotor que investiga fraude no Sul

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

22/10/2014 19h11

"Em São Paulo, o que é branco é leite." A afirmação é do promotor Mauro Rochemback, do MP (Ministério Público) gaúcho, que investiga a fraude no alimento no Rio Grande do Sul e que, nesta semana, auxiliou na operação que prendeu 16 pessoas em Santa Catarina.

Segundo ele, a fiscalização do leite que entra nas indústrias paulistas é praticamente nula. E é São Paulo o destino da maior parte do produto adulterado no Sul do país. 

Nessa segunda-feria (20), o MP (Ministério Público) de Santa Catarina deflagrou uma operação contra o leite adulterado. Foram cumpridos 16 mandados de prisão e 21 de busca e apreensão. 

O esquema, segundo Rochemback, da Promotoria de Justiça Especializada de Porto Alegre, é o mesmo que foi descoberto no RS nas operações Leite Compen$ado: ao sair do produtor, o alimento recebe água e substâncias químicas - como soda cáustica - para aumentar seu volume e maquiar sua péssima qualidade.

"O leite recebe tratamento para ganhar mais tempo de padronização. Substâncias para deixar ele dentro do padrão de forma que ele vença o tempo de deslocamento até SP. Ele entra na indústria aparentemente bom, mas já recebeu as substâncias", explica o promotor.

Em SP o produto impróprio para consumo não é identificado pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

"O leite está desassistido. Fomos informados que não existe fiscalização no setor leiteiro de SP. Se é branco, eles recebem. Se é branco, é leite. Tá na hora de SP tomar uma providência urgente em relação isso. O leite adulterado sai daqui [Sul do país] com baixa qualidade, recebe tratamento químico no RS ou em SC, e vai para SP."

A falta de fiscalização no setor, segundo Rochemback, pode ter uma explicação: "Fomos informados por fiscais do próprio Mapa que, anos atrás, houve problema de excesso de água no frango. Houve toda uma movimentação, o MPF cobrou mais fiscalização, e até houve ajuizamento de ações. A solução encontrada pelo Mapa, na época, foi o remanejo de todos os fiscais da área do leite para o franco, para atender a determinação judicial. Mas foi utilizada a velha estratégia do cobertor curto, deixando o leite descoberto". 

O promotor, entretanto, acredita indústrias de leite e derivados paulistas devem participar ou, ao menos, saber do esquema. "Acredito que alguns empresários de sabem do caso, já que essa situação pode ser perfeitamente identificada em uma análise criteriosa", avalia.

Operação Leite Compen$ado

A Operação Leite Compen$ado, no RS, em suas seis fases já prendeu 20 pessoas e denunciou 43 por fraude no leite.

O trabalho de investigação teve início em abril de 2012, quando o Mapa identificou a presença de formol em amostras de leite em um dos postos de resfriamento no RS. Após uma segunda coleta ter apontado novamente essa ilegalidade, o MP foi procurado. 

A fraude foi comprovada através de análises químicas do leite cru, onde foi possível identificar a presença do formol, que mesmo depois dos processos de pasteurização, persiste no produto final. Com o aumento do volume do leite transportado, os leiteiros lucravam 10% a mais que os 7% já pagos sobre o preço do leite cru, em média 0,95 reais por litro.