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Oficina de origami melhora a saúde física e mental de presos em MG

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

30/10/2014 06h00

O origami, técnica japonesa de dobrar papéis sem cortes e colagens, criando formas, modificou a relação do detento Luiz Gonzaga, 57, com a família. "Eles [a família] viram que eu estava trabalhando e fazendo algo bom. Foi muito importante ganhar um abraço dos meus parentes e ouvir que me amam", afirma Gonzaga.

O detento e mais cinco presos do Ceresp (Centro de Remanejamento do Sistema Prisional) de Betim (Minas Gerais), na região metropolitana de Belo Horizonte, participam de uma oficina de origami na unidade prisional, desde o início do ano, que estão mudando suas vidas.

Responsável pela criação da oficina no Ceresp Betim, a assistente social da Secretaria de Defesa Social Rosemary Ramos explica que, ao utilizar uma linguagem própria, o origami possibilita que as pessoas pensem.

“É uma linguagem própria e a leitura dos diagramas, que ensinam a técnica, tem de ser feitas sem erros. As formas básicas do origami permitem trabalhar com equilíbrio os dois lados do cérebro, o esquerdo [racional] e o direito [emocional]”, afirma a assistente social.

Para a psicóloga Carla Borges Moreira, que faz o acompanhamento psicológico do grupo, "é claro, inequívoco e impressionante" a melhoria da saúde física e mental dos presos, além da maior afetividade na relação com as pessoas.

Ela explica que a oficina de origami contribuiu para que o detento Eduardo Costa, 41, que tem acompanhamento psiquiátrico, diminuísse a quantidade de remédios e medicamentos que toma. "Nunca imaginei estar numa sala, trabalhando, conversando sobre o que eu produzo", diz o detento.

"Ele [o detento] mudou até sua aparência. É outro. Não está mais com a cabeça raspada, esta usando o cabelo bem penteado e, mesmo usando esses uniformes vermelhos, dá para ver que está com um aspecto físico melhor”, afirma a psicóloga.

"É o maior afeto, que é o que nos move, que eles [os presos] conseguem ao participarem da iniciativa. O origami mexe com fatores intelectuais e emocionais das pessoas. Ajuda a pessoa a pensar e, com isso, essa pessoa consegue também ter maior afeto pelos outros”, diz.

Para a mãe, um alívio

Numa sala de 20 metros quadrados da unidade prisional, os seis detentos provisórios, que ainda não foram julgados, trabalham seis horas por dia. Para cada três dias no curso de origami, eles podem deduzir um dia da pena.

Preso na mesma unidade do irmão André Wesley Martins, 25, o detento Paulo Henrique Martins, 23, foi influenciado por ele para participar da oficina de origami. “O mais importante para mim é que, para minha mãe, isso (a participação na oficina) é um alívio. Não é fácil ter dois filhos presos”, diz o detento. "Vamos conseguir coisas melhores lá fora".

Produção em escala pré-industrial

Esta semana, a oficina de origami no Ceresp está trabalhando em escala pré-industrial e produzindo cerca de 400 tsurus por dia. Os pequenos pássaros, com cerca de um centímetro, estão sendo confeccionados em papel metalizado dourado de 120 gramas. Em novembro, os 8 mil tsurus, encomendados por uma multinacional à oficina do Ceresp, vão compor o cenário de um sofisticado desfiles de jóias que acontece na capital mineira. Serão afixados no teto com fios de nylon.

“Eles (os presos) também aprenderam que, na cultura japonesa, mil tsurus representam uma conquista. Lá (no Japão), quando as pessoas nascem ou quando têm algum motivo importantes, ganham mil tsurus. Mil tsurus tem o significado de boa sorte. É o pássaro símbolo da sorte”, afirma Rosemary Ramos.

“Eu nunca tinha ficado preso. Acabei entrando em depressão quando me vi aqui (no Ceresp). Agora, eu consigo ensinar (a técnica do origami) para outros colegas. E ainda quero ensinar lá fora, quando sair daqui”, diz o detento Júnio Sena, 19, que demora cerca de três minutos, em média, para confeccionar um tsuru.