Motivo de mágoa de Drummond, igreja em MG fica vermelha após restauro
A Igreja de São José, importante templo católico em Belo Horizonte, voltou a ser vermelha, laranja e cinza. As novas cores foram reveladas na semana passada, com o início da restauração da área externa do espaço, a partir do projeto original, feito pelo arquiteto Edgard Nascentes Coelho, em 1901.
Reforma do interior
A pintura que está sendo refeita corresponde a uma pintura da igreja feita em 1928 pelo alemão Wilhelm Schumacher. A primeira pintura, considerada apenas decorativa, era uma simples imitação de pedras.
A igreja de padres redentoristas teve seu interior restaurado entre 2010 e 2013. Só o trabalho de adaptar a luminosidade para destacar as pinturas parietais (feitas nas paredes e nos tetos também por Schumacher) consumiu dois anos de serviço, entre 2011 e 2012.
O interior da igreja reúne grande variação de motivos religiosos e pagãos. Há figuras de 28 santos, divididas entre homens de um lado e mulheres de outro, painéis mostrando José do Egito sendo vendido pelos irmãos e seu retorno triunfal, além de símbolos do Zodíaco, que para os católicos representam constelações.
Rompimento de Drummond
A Igreja de São José foi uma das causas do rompimento de Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira, com a cidade de Belo Horizonte, cujas ruas e habitantes permearam boa parte de sua obra. Foi lá que o escritor, considerado um dos mais influentes poetas brasileiros do século 20, estudou e iniciou sua carreira literária.
Drummond deixou de lado as crônicas que publicava no "Jornal do Brasil" e, em 14 de agosto de 1976, publicou no espaço o poema “Triste Horizonte”.
Foi o anúncio do rompimento com a cidade. O poeta jamais retornou a Belo Horizonte até sua morte, em agosto de 1987. Dias antes da publicação, a Igreja de São José havia aberto seus jardins para a instalação de um estacionamento e anunciava a venda dos terrenos de dois quarteirões laterais, na rua Tupis e na rua Rio de Janeiro, onde antes existiam jardins, para a construção de um complexo de lojas, que ocupam a área há 30 anos.
Leia o poema:
“Anda! Volta lá, volta já. E eu respondo, carrancudo: Não.
Não voltarei para ver o que não merece ser visto, o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser.
Esquecer, quero esquecer é a brutal Belo Horizonte que se empavona sobre o corpo crucificado da primeira. Quero não saber da traição de seus santos. Eles a protegiam, agora protegem-se a si mesmos.
São José, no centro mesmo da cidade, explora estacionamento de automóveis. São José dendroclasta não deixa de pé sequer um pé-de-pau onde amarrar o burrinho numa parada no caminho do Egito. São José vai entrar feio no comércio de imóveis, vendendo seus jardins reservados a Deus.
Sossega minha saudade. Não me cicies outra vez o impróprio convite. Não quero ver-te, meu Triste Horizonte e destroçado amor.”
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