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Água desviada em São Paulo abasteceria cinco cidades de Itu

Guilherme Balza e Natália Peixoto

Do UOL, em São Paulo

07/11/2014 06h00

A quantidade de água desviada em fraudes praticadas por consumidores na capital paulista e por problemas nos hidrômetros seria suficiente para abastecer população equivalente a cinco cidades de Itu (101 km de São Paulo), município com 164 mil habitantes que sofre com a falta de água que atinge o Estado neste ano.

De acordo com dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o consumo diário de água na cidade de São Paulo foi de 1.883.502 m³ em agosto deste ano. Deste montante, cerca de 7% (131.845 m³) é desviado em fraudes ou não são contabilizados pelos hidrômetros.

A Sabesp trata como fraude qualquer manipulação do hidrômetro ou do ramal de água. Segundo a companhia, os desvios ocorrem principalmente em locais com uso intensivo de água, como bares, restaurantes, lava-rápidos e também em residências. Após detectar a irregularidade, a Sabesp informa o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) para que seja feita a investigação criminal.

Ontem (6), por exemplo, policiais foram até o edifício Constância, conhecido como “Redondo”, na avenida Ipiranga, região central da capital, após a Sabesp suspeitar de fraude na medição. No local, os policiais encontraram três super-ímãs instalados para fraudar a contabilização do hidrômetro.

De acordo com a Sabesp, a fiscalização é feita com equipes de campo que pesquisam e identificam locais em que o consumo não é compatível com o padrão do imóvel ou a atividade exercida. Quando a irregularidade é identificada, o fornecimento de água é interrompido, e o consumidor é obrigado a pagar o valor devido. Além disso, os responsáveis podem responder por crime de furto qualificado.

Até setembro, foram localizadas 12 mil ligações clandestinas, segundo a Sabesp. No ano passado, foram 14 mil. Em 2012, 16 mil.

Entre os estabelecimentos flagrados neste ano estão uma padaria na Vila Madalena, bairro boêmio de São Paulo; a fábrica de gelo Max Gelo, em Taboão da Serra (Grande São Paulo); a churrascaria Boi Gaúcho, na zona leste; e cinco pensões na zona sul, todas do mesmo dono.

Além das fraudes, ligações clandestinas de água provocam uma perda de 3% de toda a água consumida. As ligações são feitas, sobretudo, em favelas e comunidades que não estão regularizadas, nas quais os moradores não têm garantindo o acesso legal à água. Estes casos não são tratados pela Sabesp como fraude.

Perdas representam um terço do consumo

Segundo a Sabesp, pouco menos de um terço de todo o volume de água produzido nos reservatórios da Grande São Paulo se perdem. Além das fraudes e ligações clandestinas, o percentual é composto por vazamentos e perdas no percurso das represas até os consumidores.

Entre 2008 e 2012, a Sabesp gastou cerca de R$ 1 bilhão com programa de Redução de Perdas e Uso Racional da Água, mas o desperdício não diminuiu sensivelmente. Em 2008, 32,8% da água produzida se perdeu. Em 2012, o percentual caiu para 30,5%.

Por conta disso, o programa é de um inquérito civil aberto em abril deste ano pela Promotoria de Justiça do Patrimônio do Ministério Público de São Paulo, após denúncia de um funcionário da Sabesp.

A companhia diz que o programa tem surtido efeito e ajudou a economizar água suficiente para abastecer dois milhões de consumidores. A Sabesp cita como exemplo cidades não abastecidas pela companhia, como Guarulhos (Grande SP), onde o desperdício de água chega a 50%.