Topo

Juiz chamou funcionário da TAM de 'vagabundo' e 'm...', diz testemunha

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

10/12/2014 06h00Atualizada em 11/12/2014 11h35

Uma testemunha que presenciou toda a confusão envolvendo o juiz Marcelo Baldochi e funcionários da TAM, no aeroporto de Imperatriz (MA), no último sábado (6), afirmou que o magistrado não restringiu a dar voz de prisão a três agentes, como também os humilhou.

“Ele se alterou, chamou o atendente de vagabundo, disse que eles eram uns 'merdas'. Ele parou o aeroporto, e todo mundo se revoltou contra ele. Ele os humilhou, foi triste”, contou a mulher, que acompanhava o namorado no momento em que a confusão ocorreu. 

A testemunha afirmou que Baldochi chegou a pedir ao atendente para que o piloto o esperasse para embarcar, mas não foi atendido. “Ele então inventou lá uma lei e disse que era desacato ao consumidor e então invadiu a área restrita da TAM. O primeiro atendente, ele mandou ficar no cantinho da sala, dizendo que estava preso”, afirmou.

Ainda segundo a testemunha, na saída do aeroporto, já com a chegada da Polícia Militar, os funcionários da TAM foram conduzidos de táxi até a delegacia e não foram algemados.

“O juiz disse que precisava viajar com urgência para ir a um velório. Ele batia no balcão e gritava: 'eu quero o meu dinheiro da passagem de volta em dobro'. Fez aquilo tudo para aparecer, para abusar do poder”, completou.

A testemunha entrevistada nesta reportagem entrou em contato com o UOL via Whatsapp (11) 97500-1925. O vídeo publicado nesta reportagem foi enviado por ela, e gravado pelo irmão – que também estava no aeroporto no momento da confusão.

Juiz ainda não foi à polícia

A delegada adjunta do 3º Distrito Policial de Imperatriz (MA), Virginia Loiola, afirmou que ainda aguarda a ida de Baldochi para dar prosseguimento às investigações sobre o boletim de ocorrência aberto no último sábado.

Segundo a delegada, o registro da ocorrência foi feito por telefone por um advogado acionado por Baldochi, sem mais detalhes. “Ele pediu pra registrar o boletim com base no artigo 76 do Código de Defesa do Consumidor. Estamos aguardando o comparecimento do juiz para que ele dê prosseguimento ao caso”, informou.

O artigo 76 fala dos agravantes dos crimes tipificados no código e prevê punição a quem ocasionar "grave dano individual".

Para a delegada, ainda não está claro que tipo de crime teria sido cometido no caso. “O avião decolou normalmente, os motores não foram desligados e o juiz foi acomodado pela própria TAM”, afirmou.

A delegada afirmou que os funcionários da TAM levados à delegacia no sábado não chegaram a prestar depoimento porque não havia queixa formal. “Eles não foram ouvidos; apenas foi registrado o boletim. Nada mais", disse.

Segundo a delegada, dois dos funcionários procuraram a polícia nesta terça-feira (9) para pedir esclarecimentos, mas não prestaram boletim de ocorrência por ordem da empresa.

"Os funcionários estão, de certo modo, indignados porque o juiz os humilhou publicamente, mas não prestaram queixa”, disse.

O UOL conseguiu contato com um dos funcionários detidos por ordem do juiz. Ele informou que a empresa está à frente das ações em resposta ao juiz e que a TAM teria solicitado que eles não dessem mais detalhes sobre o assunto.

A reportagem não conseguiu localizar o juiz Marcelo Baldochi. Uma funcionária da 4ª Vara Cível de Imperatriz, onde o juiz é titular, informou que ele está de licença-luto esta semana por conta da morte de um familiar. O telefone celular do magistrado está desligado ou fora de área desde a segunda-feira (8).