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Beltrame defende expulsão de major acusado de desaparecimento de Amarildo

José Mariano Beltrame, secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro - Divulgação/UPP-RJ
José Mariano Beltrame, secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro Imagem: Divulgação/UPP-RJ

Do UOL, no Rio

18/12/2014 09h29Atualizada em 18/12/2014 09h41

O secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, defendeu a expulsão do major Edson Santos, ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, favela da zona sul do Rio, e um dos 25 PMs acusados pelo desaparecimento, pela tortura e pela morte do pedreiro Amarildo de Souza. Os crimes ocorreram em julho do ano passado.

Em entrevista à "TV Globo", nesta quinta-feira (18), o secretário afirmou que a decisão da Corregedoria da Polícia Militar de manter o major no quadro da corporação ainda não chegou a seu gabinete. No entanto, ele disse, sem entrar em detalhes, que não concorda com a avaliação do órgão.

Na terça-feira (16), o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio) decretou a prisão preventiva de quatro policiais militares denunciados por subornarem duas testemunhas do caso Amarildo. O major Edson Santos está entre os réus.

A ação, que tramita na Auditoria Militar, trata da corrupção de testemunhas durante a investigação da Divisão de Homicídios sobre o desaparecimento da vítima.

Já o processo que diz respeito ao homicídio, ao sequestro e à ocultação do corpo da vítima corre na Justiça comum. Por esses crimes, Santos e outros PMs já se encontram presos no BEP (Batalhão Especial Prisional) à espera do julgamento.

Além do major, foram denunciados à Auditoria Militar o tenente Luiz Felipe de Medeiros e os soldados Newland de Oliveira e Silva Junior e Bruno Medeiros Athanasio. Os dois últimos não constam na lista de policiais acusados na Justiça comum pelos crimes de sequestro, homicídio e ocultação de cadáver. A reportagem procurou a PM para saber se os soldados já foram encarcerados, mas ainda não obteve resposta.

Segundo o MP, Newland e Bruno funcionariam como interlocutores dos oficiais na negociação para que as testemunhas afirmassem à polícia que o pedreiro foi assassinado pelo suspeito de tráfico de drogas Thiago da Silva Neris, o Catatau.

Nas informações contidas na denúncia do MP, os PMs teriam pagado R$ 500 e R$ 850 a duas pessoas para que elas atribuíssem a morte de Amarildo ao traficante. Uma das testemunhas chegou, inclusive, a receber fraldas descartáveis como propina. De acordo com a denúncia, o objetivo era afastar a suspeita em relação aos PMs da UPP.

"Os soldados Newland e Bruno faziam o contato entre as testemunhas que receberiam a propina e o major Edson, comandante da UPP. Eles também usaram os seus carros particulares para, após a oferta das quantias em dinheiro, tirar essas pessoas da Rocinha. Os locais para onde as testemunhas foram levadas, fora da Rocinha, foram indicados pelo próprio major Edson", explicou a promotora Isabella Pena Lucas.

Na ocasião, o soldado Marlon Campos Reis fingiu ser o traficante ao ligar para um colega e, imaginando ter a conversa interceptada pela Polícia Civil, passar-se por Catatau e assumir a morte do pedreiro. Para o MP, os militares sabiam da existência de um telefone que estava sendo monitorado pela Polícia Civil em função de outra investigação.

Com isso, a ligação forjada acabou sendo a última tentativa de criar um álibi. Na denúncia, o Ministério Público apresenta como prova técnica um novo laudo pericial de exame de voz, produzido pela própria Polícia Militar, que comprova o telefonema.

Caso Amarildo

Amarildo morreu após ser torturado por policiais militares dentro da base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, favela na zona sul do Rio de Janeiro, em julho do ano passado, de acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público.

No total, 25 PMs foram processados. Todos foram denunciados por tortura seguida de morte, 17 por ocultação de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual.

Em abril deste ano, Elizabeth foi detida após se desentender com policiais da UPP da Rocinha. Segundo ocorrência registrada na 11ª DP (Rocinha), a viúva de Amarildo era suspeita de tentativa de lesão corporal, desacato e resistência. Ela prestou depoimento e foi liberada.

Desde o começo do ano, foram feitas audiências de instrução e julgamento com testemunhas de defesa e acusação, além do interrogatório dos réus.