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Jazigos de cemitério em Uberlândia não são lacrados; mau cheiro incomoda

Jazigos estavam apenas com a parte inferior vedadas com placas de cimento - Renata Tavares/UOL
Jazigos estavam apenas com a parte inferior vedadas com placas de cimento Imagem: Renata Tavares/UOL

Renata Tavares

Do UOL, em Uberlândia

20/01/2015 14h14

Desde o início do ano, cerca de 50 jazigos do cemitério Bom Pastor, o maior de Uberlândia (537 quilômetros de Belo Horizonte) com mais de 30 mil sepulturas, não estão sendo totalmente lacrados.

Até segunda-feira (19), os espaços que comportam duas gavetas estavam apenas com a parte inferior vedadas com placas de cimento. Em muitas delas, faltavam massa de cimento entre as arestas que ficam na lateral.

Já a parte de cima, que normalmente é coberta com cimento para que seja feito o jardim em cima, estava totalmente aberta.  Coroas de flores e homenagens aos mortos estavam dentro das sepulturas.

Como choveu na primeira semana do ano e as covas estavam parcialmente abertas, a água acumulou no local. Com a temperatura chegando a quase 30ºC na cidade, o mau cheiro incomodava alguns visitantes.

Sepultura ficou aberta 20 dias

O caminhoneiro Armando da Silva, que teve a filha sepultada no dia 31 de dezembro, depois que ela lutou contra uma leucemia, foi um dos primeiros a denunciar a situação.

“Eu vim aqui três dias depois visitar o túmulo da minha filha e ainda estava aberto. Procurei a administração e me disseram que iriam resolver. Uma semana depois voltei e nada tinha acontecido. Estava um mau cheiro e o jazigo aberto”.

Na manhã de segunda-feira, Silva esteve novamente no cemitério. Ele diz que pagou mais de R$ 2.000 para o sepultamento e outros R$ 500 para um jardineiro cuidar do túmulo, mas o local ainda estava apenas com a parte de baixo lacrada.

“É um descaso. Isso aqui não foi de graça. Já é triste perder um filho e ficar nesta situação é pior ainda”, desabafa.

Órgãos municipais alegaram falta de funcionários no cemitério - Renata Tavares/UOL - Renata Tavares/UOL
Órgãos municipais alegaram falta de funcionários no cemitério
Imagem: Renata Tavares/UOL

Prefeitura e administração alegam falta de mão de obra

Procurados pelo UOL, Silas Guimarães, assessor da secretaria municipal de Serviços Urbanos, e João Batista, coordenador do setor administrativo do cemitério, alegaram que o fato ocorreu por falta de funcionários no cemitério.

Segundo Batista, atualmente são cinco pedreiros e outros quatro auxiliares que trabalham na manutenção e no sepultamento e o “número é insuficiente”. Além disso, segundo o coordenador, são os próprios funcionários que fabricam as placas de cimento que cobrem os jazigos.

“Leva em média três dias para que elas fiquem totalmente prontas. São produzidas uma média de 500 por semana, mas como vieram os feriados e alguns funcionários não apareceram para trabalhar, não conseguimos produzir todas”, disse.

Guimarães disse que o caso está sendo apurado. “Nós estamos levantando o que aconteceu, mas em todo caso sabemos da falta de funcionários”.

Ele afirma que para atender a demanda do cemitério seria necessária a contratação de pelo menos outros oito pedreiros, mas que o salário oferecido pela prefeitura não é atrativo. “Hoje um pedreiro recebe R$ 2.300, mas o salário fixo da prefeitura é de R$ 1.000. Estamos tentando rever esses valores”.

No início da tarde de ontem, após a repercussão na imprensa, funcionários do cemitério e também de uma empresa terceirizada contratada pela prefeitura fizeram o que eles chamaram de “força tarefa” para lacrar a parte de cima dos jazigos que estavam abertos.

A previsão, segundo Guimarães, é que todos os espaços sejam devidamente lacrados até quarta-feira.