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Mais apagões podem se repetir nos próximos meses? Especialistas respondem

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

20/01/2015 06h00

O apagão que atingiu 10 Estados brasileiros e o Distrito Federal por 45 minutos na tarde da segunda-feira (19) pode ser o primeiro de outros em 2015. Especialistas ouvidos pelo UOL disseram acreditar que o sistema elétrico do país esteja atuando acima da capacidade desde o ano passado. Essa situação poderá provocar novas quedas no fornecimento de energia, mas não se sabe ao certo quando e com que frequência poderão ocorrer.

Oficialmente, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) informou que o problema foi causado por "restrições na transferência de energia das Regiões Norte e Nordeste para o Sudeste, aliadas à elevação da demanda no horário de pico, que provocaram a redução na frequência elétrica". O uso crescente de equipamentos de refrigeração por parte dos usuários neste verão estaria por trás da maior demanda deste período.

Além disso, o calor estaria afetando também os reservatórios das usinas hidrelétricas --principal fonte de energia elétrica no Brasil-- que estão com níveis cada vez mais baixos de água. Com isso, as quedas d'água perdem força, logo, perdem também potência de geração de energia. Como consequência, o desempenho das usinas termelétricas fica saturado para suprir a demanda.

"Esta situação deve durar mais alguns meses, mas é impossível prever a frequência de novos apagões. Pode haver uma nova queda de energia amanhã, ou daqui a um mês. O que se sabe é que o risco está elevadíssimo, tanto de apagões como de racionamentos", diz Afonso Henriques Moreira Santos, ex-diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e atual professor da Unifei (Universidade Federal de Itajubá).

Ele relembrou a crise de energia de 2001, quando o governo decretou racionamento e perdeu de R$ 45 bilhões com a crise. Porém, de acordo com Santos, em 2002 houve um corte de demandas que levou a sobras de energia, que compensaram as perdas. "O governo deverá decretar racionamento até abril, ou antes disso e aumentar tarifa em 20% a 40%. Isso vai reduzir o consumo, mas não a curto prazo", afirma.

"Tem chovido menos que a média histórica, e isso significa que a fragilidade do sistema elétrico vai se acentuar a partir de abril. A necessidade de se voltar à produção das termelétricas vai continuar. Então a situação é imprevisível. Não consigo antever como o sistema vai suportar situações-limite como a desta segunda", diz Célio Bermann, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP (Universidade de São Paulo).

Bermann se mostra preocupado com o fato da Aneel não ter acompanhado o desligamento solicitado pelo ONS. A agência diz que espera relatório da entidade para tomar alguma providência. "Isso mostra como é complexo o sistema elétrico brasileiro, em que as partes não estão conversando entre si. Isso diminui a segurança da população brasileira no suprimento de energia", afirma.

Além de desligamentos pontuais, realizados como medida emergencial para evitar um colapso, os especialistas defendem outras alternativas para salvar o sistema, como reduzir o consumo em prédios públicos e zerar o IPI [Imposto Sobre Produtos Industrializados] para lâmpadas eficientes e incentivos para redução de consumo no parque industrial.