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Em SP, hidrelétricas usam volume morto para gerar energia

Usina de Três Irmãos, no rio Tietê, opera com o volume morto desde 2014 - Joel Silva/Folhapress
Usina de Três Irmãos, no rio Tietê, opera com o volume morto desde 2014 Imagem: Joel Silva/Folhapress

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

23/01/2015 06h00

Duas usinas hidrelétricas do Estado de São Paulo operam há sete meses graças ao uso do volume morto de seus reservatórios de água. Desde junho, as usinas de Ilha Solteira e Três Irmãos estão com seus volumes úteis zerados, de acordo com dados do ONS (Operador Nacional do Sistema).

Ainda segundo o ONS, é a primeira vez que se usa o volume morto de ambas as usinas. Ilha Solteira foi concluída em 1978; Três Irmãos, em 1999.

O nível dos reservatórios baixou por causa da forte estiagem. Dados do ONS mostram que 18 dos 21 principais reservatórios de hidrelétricas do país enfrentam problemas em função da escassez de chuva

Diante da crise, o governo federal tem acionado usinas termelétricas, que geram energia a um custo mais alto do que o das hidrelétricas. Recorrer ao volume morto em certos casos é, porém, uma tentativa de usar menos as termelétricas.

O volume útil de uma usina é como uma caixa d'água. Quando ele acaba, perde-se a capacidade de regular o armazenamento. Ou seja, o sistema fica mais vulnerável em período longos de estiagem.

“A usina passa a funcionar a fio d’água. A água que entra logo é processada e sai”, explica o engenheiro Sergio Valdir Bajay, pesquisador do Núcleo de Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Segundo Bajay, não é novidade uma usina funcionar "a fio d’água". Praticamente todas as novas usinas operam dessa maneira. É uma forma, diz o engenheiro, de diminuir o impacto ambiental da obra e obter licenciamento para a construção com mais facilidade.

No entanto, acrescenta o pesquisador, o uso do volume morto para a geração de energia é mais restrito do que a utilização para o abastecimento de água. Se o nível do reservatório fica abaixo de certo ponto, torna-se impossível tecnicamente fazer a captação de água para produzir energia.

Maior usina de São Paulo

Ilha Solteira fica no rio Paraná, entre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Operada pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo), tem uma capacidade instalada (potência) de 3.444 megawatts, é a maior hidrelétrica paulista e uma das maiores do país. Localiza-se no município do mesmo nome, 660 km a noroeste da cidade de São Paulo.

A bacia do rio Paraná é a mais importante da região Sudeste em termos de geração de energia por usinas hidrelétricas. Responde por 28% da produção desse tipo de energia no país.

Administrada pela Tijoá Participações, Três Irmãos se situa no rio Tietê, perto da confluência com o rio Paraná, e possui uma capacidade instalada de 807 megawatts. Fica no município de Pereira Barreto, 623 km a noroeste da capital paulista. A bacia do Tietê gera cerca de 2% da energia hidrelétrica do Brasil.

Primeiro desligamento

No outro lado do Estado de São Paulo, na região do Vale do Paraíba, a usina de Paraibuna também zerou o volume útil nesta quarta-feira (21), mas neste caso decidiu-se pela suspensão da operação. Trata-se da primeira usina hidrelétrica a ser desligada nesta crise. O volume morto do reservatório será usado somente para o abastecimento de água.

Operada pela Cesp, Paraibuna é uma usina de pequeno porte, com 87 megawatts de potência. Ela fica no município de mesmo nome, 124 km a leste de São Paulo, e faz parte da bacia do Paraíba do Sul, que produz menos de 1% da energia gerada por usinas hidrelétricas no país.

Com o desligamento, o ONS faz remanejamentos no Sistema Integrado Nacional, composto por matrizes diferentes, inclusive as usinas termelétricas, para manter o fornecimento de energia.

Hidrovia parada

Na mesma região das usinas de Ilha Solteira e Três Irmãos, a navegação de longo percurso na hidrovia Tietê-Paraná está interrompida desde 29 de maio por causa da estiagem. São, portanto, quase oito meses de suspensão das navegações de grandes embarcações.

O ponto crítico é o canal de Nova Avanhandava, no município de Buritama (531 km a noroeste de São Paulo). No fim do ano passado, a secretaria estadual de Logística e Transportes abriu a licitação da obra de escavação do canal para que ele tenha mais dois metros de profundidade.

A secretaria diz que as obras começarão ainda neste semestre. O investimento estimado é de R$ 280 milhões. Em 2013, antes da interrupção, o transporte pela hidrovia movimentou 6,3 milhões de toneladas de cargas.