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Moradores de SP enfrentam maratona para resolver problemas na conta de água

Multada, Sinaida Gabrieli desistiu de ligar para a Sabesp e foi reclamar pessoalmente - Junior Lago/UOL
Multada, Sinaida Gabrieli desistiu de ligar para a Sabesp e foi reclamar pessoalmente Imagem: Junior Lago/UOL

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

27/02/2015 06h00

Não basta economizar água. É preciso cumprir a meta de consumo para não levar multa. Se levar multa, a tentativa de reverter a situação pode ser difícil. Moradores da Grande São Paulo insatisfeitos com as contas têm enfrentado uma maratona nos canais de atendimento da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Depois de conviver por um ano com cortes de abastecimento, a administradora de empresas Sinaida Gabrieli está há um mês tentando resolver o problema na conta de água de sua casa no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo.

“Estou fazendo um esforço muito grande, como todo mundo, para economizar água. Meu consumo, em vez de diminuir, aumentou. Então alguma coisa está errada”. A conta saltou de cerca de R$ 60 para R$ 120. “É uma diferença significativa e injusta”. Na opinião de Sinaida, o valor aumentou porque o registro de água está girando com o ar.

“Fiz umas quatro ligações [para a Sabesp] desde o fim de janeiro. O atendimento por telefone é atencioso, mas não é eficiente, não resolve”, disse Sinaida. Depois das ligações, a Sabesp enviou duas equipes à sua casa, mas nada ficou resolvido.

Na última terça-feira (24), ela optou por ir ao posto de atendimento da Sabesp no Butantã e reclamar pessoalmente. “Pediram que eu aguardasse. Outra equipe vai fazer vistoria lá. Se não for constatado nenhum vazamento, vão pelo menos tirar a multa”.

Quebradeira e prejuízo

Depois de também desistir do atendimento telefônico da Sabesp, o comerciário Paulo Roberto da Silva virou frequentador do posto do Butantã. A conta de água de sua casa costumava girar em torno de R$ 170. “De repente [no segundo semestre de 2014] veio uma conta de R$ 450. Achei estranho e vim falar. Disseram que era um problema de vazamento na casa. Paguei a conta e esperei a próxima. Veio uma de R$ 190. Mas voltou de novo a R$ 380. E agora veio outra de R$ 380”.

Paulo Roberto da Silva reclamou da alta na conta, mas só conseguiu o parcelamento - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
Paulo Roberto da Silva reclamou da alta na conta, mas só conseguiu o parcelamento
Imagem: Junior Lago/UOL

Entre um mês e outro chamou um encanador para procurar vazamentos nas instalações. “Quebrei a casa inteira para achar um vazamento e não achei. A quebradeira deu um prejuízo de R$ 3 mil”.

Na última terça, Silva fazia sua terceira visita ao posto. “Depois de muito falar, fizeram um parcelamento da conta. Não reduziu nada. Chegamos a um acordo bom para eles”.

A advogada Ana Cristina Gyori também desistiu de ligar para a Sabesp e resolveu ir ao posto do Butantã. “Você tem de perder seu dia de serviço e vir aqui. Meu quarteirão inteiro está sem água há oito dias. Fiquei três horas aqui [no posto]. Liguei na ouvidoria e abri uma queixa por causa do atendimento precário da Sabesp”.

O advogado Maurício Malheiros de Miranda Monteiro foi ao mesmo posto para contestar a multa recebida por excesso de consumo e reclamou da demora no atendimento. “Vim presencialmente aqui um dia, peguei as informações e os documentos necessários. Voltei hoje e esperei bastante. A necessidade faz com que a gente modifique a rotina. Me dispus a perder a tarde para vir aqui”. Monteiro conseguiu ao menos resolver seu problema porque a Sabesp aceitou mudar a meta de seu consumo.

O técnico em contabilidade Ricardo Machado da Costa, morador de Cangaíba, na zona leste de São Paulo, não teve a mesma sorte. Ele entrou em contato com o UOL pelo Whatsapp (11) 97500-1925 para reclamar do aumento em sua conta.

“Minha conta nunca passou de R$ 35. Quando resolvemos economizar, veio uma conta de R$ 662. Só de multa foram R$ 220”, relatou. Costa foi ao posto de atendimento da Sabesp na Penha, também na zona leste, e saiu insatisfeito. O atendente da empresa baixou a conta, mas para R$ 110, valor que o técnico ainda considera injusto.

Alta nas reclamações

A Sabesp recebeu, em janeiro, 25.096 reclamações contra a alta de consumo -- a cifra inclui as queixas contra multas. Foi o mês com o maior número de queixas desse tipo desde abril do ano passado. Em relação a dezembro, a quantidade de reclamações subiu 42%.

O diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, admitiu nesta quarta-feira (25), em sessão da CPI da Sabesp, na Câmara Municipal de São Paulo, que em 2% dos casos, o equivalente a 500, constatou-se que o ar fez o registro girar. Nesses casos, disse o diretor, as contas foram revisadas levando em consideração a média de consumo do cliente. Além disso, a Sabesp instalou ventosas “para expulsar o ar”.

Em nota, a Sabesp informou que “os canais de atendimento via telefones 195 e 0800 oferecem solução para diversas demandas sem a necessidade de o cliente comparecer a uma agência de atendimento (...). Entretanto, algumas demandas necessitam de apresentação de documentos ou assinatura de termos de responsabilidade, como a revisão da média do consumo em caso de cobrança de tarifa de contingência”.

A empresa também disse que “o tempo de solução do problema depende do tipo de serviço solicitado e da complexidade de análise e solução do problema”.  “Em algumas situações, a análise da solicitação depende de vistoria no imóvel para avaliação da ocorrência, como reclamação de alta de consumo, reclamação de ar na rede, falta de água e vazamento de água e esgoto”.

Em vigor desde o começo de 2015, a multa aplicada pela Sabesp é de 100% sobre o valor da conta para quem aumenta o consumo em mais de 20% e de 40% se a alta no consumo for de até 20%. O cálculo da meta é feito com base na média de consumo verificado entre os meses de fevereiro de 2013 e janeiro de 2014.

A Sabesp aceita revisar contas e retirar multas em casos de aumento de moradores em uma casa, mudança de imóvel e de alteração de perfil de comércio.