Topo

Mulher pediu divórcio ao marido que matou a família, diz amiga

Casa onde seis pessoas da mesma família foram achadas mortas na quinta-feira (27) - Marco Favero/Agência RBS
Casa onde seis pessoas da mesma família foram achadas mortas na quinta-feira (27) Imagem: Marco Favero/Agência RBS

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

27/02/2015 16h45

"A Mônica queria viver. Ela não tinha uma vida, entendeu? Aí ela pediu o divórcio e aconteceu tudo." Assim a comerciária Sheila Piccin 41, tenta explicar a tragédia que resultou na morte de seis pessoas da família Moresco-Pederssetti, na madrugada de quinta-feira (26), em Cordilheira Alta (SC), a 560 km de Florianópolis.

Mônica Moresco, que faria 34 anos, no dia 6, a filha Lana (16), os pais dela Antônio (68) e Luiza (62) e a irmã Lucimar (36) foram mortos a tiros supostamente pelo marido, Alcir Pedersseti (42) --a polícia diz acreditar que ele se suicidou em seguida. 

Filha morta pelo pai em Cordilheira Alta (SC) - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Lana Pederssetti, 16, que teria sido uma das vítimas do pai, Alcir
Imagem: Reprodução/Facebook

Sheila afirma que era a melhor amiga e confidente de Mônica. A comerciária ajudou a polícia a construir a tese de que Mônica pedira o divórcio que Alcir não aceitava. "Ela me disse que queria se divorciar dele. Falava nisso todo dia."

Sheila e Mônica viviam no distrito de Fernando Machado, uma pequena ilha de prosperidade ao lado de Chapecó, de apenas 600 habitantes, com maioria de descendentes italianos.

Mônica e Alcir não eram casados no civil. Ele tinha outra mulher e um filho, hoje com 17 anos, quando a conheceu.

Alcir mudou-se para a casa dela onde já viviam os pais e a irmã, que tem problemas mentais. Era uma casa de madeira num sitio distante, chamado Linha Bento --a maioria das famílias de lá tem granjas de porcos ou aviários, inclusive um irmão de Alcir.

Uma chuva de granizo destruiu o telhado e eles decidiram mudar-se da Bento para o local onde ocorreria a tragédia.

Com o dinheiro da venda da casa de madeira e um financiamento Mônica ergueu o casarão de dois andares verde e de jardim bem cuidado que aparece nas fotos dos jornais.

Mônica formou-se em pedagogia, trabalhou na biblioteca da universidade de Chapecó, lecionou por nove anos e finalmente conseguiu abrir uma lojinha, a Capricho.

"O sonho dela era este negócio, ela gostava muito. Viajava para Brusque para comprar roupas e ter sempre produtos de marca, o negócio ia muito bem", diz Sheila.

Quando a casa estava quase pronta, há cinco anos, o pai dela teve um AVC que o deixou inválido, do qual nunca se recuperou.

"A Mônica era uma guerreira que não desistiu de sua gente. Cuidava dos pais e da irmã, com a ajuda de dona Luiza."  

'Machismo'

Segundo Sheila, Mônica dizia "que nunca teve uma vida de casado com ele, era sempre toda aquela família junto".

"Ela pediu o divórcio dele para poder viver. Você sabe o que é viver para uma mulher? Poder sair, ver coisas diferentes, fazer qualquer coisa além da vida de trabalheira que ela levava."

Segundo Sheila, Mônica diziz "que não se sentia amada". "[Ela] Queria sair do casamento, mas que ele não aceitava e nem queria falar no assunto com ela. Nisso ele era muito machista, não tenho dúvida", diz a amiga.

A comerciária foi ao velório sob calmantes e saiu do cemitério nos primeiros minutos, por se sentir mal. Ela chorou muito por causa de Lana, amiga de sua própria filha, de 19.