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Famílias expulsas de terreno no Rio acampam na Cinelândia

Juliana de Oliveira, 18, segura a filha nascida há 10 dias na Cinelândia, centro do Rio - Júlio César Guimarães/UOL
Juliana de Oliveira, 18, segura a filha nascida há 10 dias na Cinelândia, centro do Rio Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

27/03/2015 19h47

Nascida há apenas dez dias, a menina Jhully Eloá dormia no colo da mãe, Juliana de Oliveira, 18, na tarde desta sexta-feira (27), na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. Além da recém-nascida, pelo menos outros dez bebês de colo estavam com as famílias em frente à Câmara do Rio, um dia após a reintegração de posse que removeu cerca de 400 pessoas de um terreno da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), na região portuária, que está em processo de venda.

Ao todo, aproximadamente 100 desalojados continuam na Cinelândia, se alternando entre a escadaria do prédio do Legislativo municipal, da qual foram expulsos por guardas municipais na madrugada desta sexta, e o centro da praça, sob árvores. Sem dinheiro e comida, as famílias pedem doações dos transeuntes a todo instante e exibem cartazes pelo direito à moradia e cobrando ajuda governamental. Para as crianças, o grupo pede fraldas, que estão em falta.

"Minha filha não pode estar domindo nas ruas, mas não temos para onde ir", afirmou Juliana. "Morro de medo de alguma coisa acontecer com ela. De madrugada, a gente foi expulso da escadaria com violência. Eles não querem nem saber se tem criança com a gente", relatou.

Segundo a jovem, quando Jhully nasceu, ela já morava na ocupação da Cedae, que durou 15 dias. Juliana, aliás, é veterana em ocupações e em reintegrações de posse: no ano passado, ela morou na "favela da Telerj", desocupada de forma violenta em abril. "Tive que ir morar na rua depois".

Os moradores do terreno foram cadastrados em programas sociais dos governos federal e estadual, mas reclamam não terem sido incluídos no cadastro do "Minha Casa, Minha Vida". "A gente não quer dinheiro, a gente quer um teto, é nosso direito", conta Adão Dias, 26, que trabalha em um barracão de escola de samba.

Provocação e humilhação

Na tarde desta sexta, sete guardas municipais estavam posicionados na frente da Câmara, onde estavam um micro-ônibus e uma van da instituição e duas viaturas da PM (Polícia Militar).

Segundo uma desalojada, Cristina Costa, 52, os guardas provocaram e humilharam os moradores do terreno da Cedae desde que eles chegaram na Cinelândia, nesta quinta (26). "Eles ficam chamando a gente de favelado, ladrão. Nós, mulheres, eles chamam de vagabunda, safada", contou. Outros sem-teto relataram as mesmas provocações.

A Guarda Municipal informou, em nota, que não recebeu até o momento "nenhuma informação sobre conflito ou confusão na região". "Caso algum manifestante tenha alguma denúncia em relação à ação dos guardas municipais, devem encaminhá-la para a Corregedoria da corporação", explicou a nota.

moradores desalojados - Júlio César Guimarães/UOL - Júlio César Guimarães/UOL
Cerca de 100 moradores retirados de terreno no Rio acampam na escadaria da Câmara dos Vereadores
Imagem: Júlio César Guimarães/UOL