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É natural que haja impactos negativos em grandes obras, diz Banco Mundial

Jim Yong Kim, o presidente do Banco Mundial - Alex Wong/Getty Images
Jim Yong Kim, o presidente do Banco Mundial Imagem: Alex Wong/Getty Images

Ciro Barros e Giulia Afiune

Da Agência Pública

17/04/2015 06h00

O Banco Mundial começou a investir no Brasil em 1949, quatro anos após sua criação. Segundo a instituição, sua estratégia é “ajudar o Brasil a promover crescimento sustentável e de longo prazo, que garanta oportunidades de desenvolvimento para a população”, tendo como principais objetivos: aumentar investimentos públicos e privados, melhorar a oferta de serviços para os mais pobres, fortalecer o desenvolvimento regional e nacional e apoiar o gerenciamento efetivo dos recursos naturais e do meio ambiente.

Projetos de diversas áreas são financiados pelo Banco Mundial no Brasil, incluindo gestão pública, desenvolvimento rural, transporte e meio ambiente. Alguns destaques são o Bolsa Família, o Programa de Áreas Protegidas da Amazônia e a construção das linhas 4 e 5 do metrô de São Paulo.

Entre 2004 e 2013, o Banco Mundial aprovou o financiamento de 153 projetos no Brasil, dando prioridade, em ordem, aos setores de “administração pública, administração da lei e da justiça”, “agricultura, pesca e silvicultura” e “água, saneamento e proteção contra inundações”.

Em 42 projetos, 27,5% do total, há evidências de que pessoas perderam suas casas, terras ou empregos. Desses, 57% projetos são ligados ao setor de água, saneamento e proteção contra inundações.

Pelo menos 10.094 brasileiros sofreram as consequências negativas desses projetos, que custaram cerca de US$ 7,4 bilhões ao banco.

As informações são de um levantamento realizado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) com dados disponíveis no site do Banco Mundial.

De acordo com a pesquisa, o Brasil é o segundo país com maior número absoluto de projetos que foram financiados pelo banco em que pessoas sofreram impactos negativos, ficando atrás apenas da China, com 112 projetos. Já em termos relativos, o Brasil ocupa o 20º lugar no ranking, ao lado de Quênia, Vietnã e Nigéria – nos quatro países, cerca de 30% do total de projetos teve impactos negativos.

Com 66% dos projetos causando danos às populações locais, a China novamente lidera o ranking, seguida por Irã, Kiribati, Zâmbia, Malavi e Moçambique. A Argentina é o único país latino-americano em situação pior que a do Brasil, já que ocupa o 12º lugar e teve 34% dos projetos financiados pelo Banco Mundial prejudicando de alguma forma sua população.

Para o Banco Mundial, é natural que haja impactos negativos em grandes obras de infraestrutura.

“Neste momento, a necessidade de infraestrutura em países em desenvolvimento é enorme. Mais de US$ 1 trilhão por ano. E infraestrutura muito frequentemente precisa de reassentamento. Nós tentamos fazer isso de uma forma que assegure que, depois do reassentamento, todos tenham um padrão de vida que é, ao menos, tão alto quanto ou mais alto do que era antes. Aliás, de acordo com as nossas regras, mesmo se você não tem direitos de propriedade, mesmo se você for um invasor, nós providenciamos serviços de reassentamento. É um padrão muito alto que nós tentamos manter. Nós fazemos projetos difíceis e complexos em alguns dos países mais pobres do mundo, então problemas vão existir”, justificou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, em entrevista coletiva realizada em março na Alemanha, em resposta à pergunta da jornalista Julia Stein, da emissora alemã Norddeutscher Rundfunk (NDR), colaboradora do ICIJ no projeto sobre o Banco Mundial.