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Sem-teto acusam Guarda Municipal do Rio de truculência; corporação nega

Famílias que ocuparam o prédio das empresas de Eike foram cadastradas para entrar no programa de moradias populares - ERBS Jr./Frame/Estadão Conteúdo
Famílias que ocuparam o prédio das empresas de Eike foram cadastradas para entrar no programa de moradias populares Imagem: ERBS Jr./Frame/Estadão Conteúdo

Vladimir Platonow

Da Agência Brasil, no Rio

22/04/2015 16h21

Os sem-teto que foram retirados do edifício Hilton Santos (pertencente ao grupo de Eike Batista), no Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro, na última terça-feira (14), e estão acampados na Cinelândia, no centro, denunciam casos de violência por parte da Guarda Municipal. De acordo com eles, os guardas abordam o grupo de noite ou de madrugada, quando há poucas pessoas na rua, e os obrigam, com truculência, a saírem de onde estão.

Na noite da última segunda-feira (20), a perseguição a dois homens suspeitos de terem praticado um roubo no centro da cidade acabou em confronto entre sem-teto e guardas municipais. Os agentes acusaram os sem-teto de fazerem parte do grupo de ladrões o que gerou violência, inclusive com o disparo de bomba de gás. Um protótipo do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que está exposto na Cinelândia, teve um vidro quebrado.

O sem-teto Claiton França, estudante de gestão ambiental e metalúrgico desempregado, denunciou a ação dos guardas contra o grupo. "A Guarda Municipal tem agido de forma estabanada, truculenta, das piores formas que ela pode agir com o cidadão. Eles esperam o turno da noite para agir, quando a movimentação de pessoas diminui", destacou Claiton.

O líder comunitário Adão Júnior também acusou os guardas de maus-tratos. "Quando dá 1h da madrugada, eles ficam nos oprimindo, dizendo que não podemos ficar aqui. Vamos para o outro lado e eles dizem que nós também não podemos ficar lá. Querem arrumar briga com a gente para nos tirar daqui. A gente quer ficar tranquilo", disse Júnior. Ele relatou que homens da Guarda Municipal chegam a agredir as mulheres do grupo. "Ontem estávamos todos dormindo e eles vieram nos acordar. Nos agrediram verbalmente e fisicamente. Pegaram uma colega nossa e enfocaram. Eles querem achar um conflito para nos tirar na marra. Mas não vamos agredir ninguém. Estamos aqui com um objetivo só, que é conquistar nossa moradia."

Sobre o confronto ocorrido na madrugada de segunda-feira, os sem-teto afirmam que não havia ladrão no grupo. "Não foi do nosso grupo. Eles correram para cá. Um menino nosso estava descendo do ônibus trazendo comida e eles o seguraram e levaram. Aí o povo foi se manifestar para soltarem o garoto e eles jogaram bomba de gás e spray de pimenta", relatou a auxiliar de cozinha Rosangela de Oliveira Santos.

Procurada para se pronunciar sobre as acusações dos sem-teto, a Guarda Municipal enviou nota dizendo que não há relato de excesso de violência. "Há casos pontuais em que guardas sofreram tentativas ou foram agredidos ao removerem estruturas irregulares, sendo necessário imobilizar os agressores, dentro dos protocolos. A Guarda Municipal não tolera qualquer tipo de excesso por parte dos seus agentes. Qualquer denúncia pode ser feita na Ouvidoria ou Corregedoria da corporação."

Na mesma nota, a Guarda Municipal explicou que vem atuando no local para garantir o ordenamento urbano e o cumprimento do Código de Posturas Municipais, que proíbe a fixação de acampamento e a ocupação irregular do espaço urbano.

Em um evento ontem (21), o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que a solução imediata para o grupo é ir para um dos abrigos públicos, para depois ver a situação de cada uma das famílias.

"A cidade do Rio ainda é a campeã brasileira do Minha Casa, Minha Vida. Mas a gente tem que entender que há critérios para entrar nesse programa. Não pode ser 'invadiu, levou um apartamento'. Tem um programa que as pessoas se cadastram e participam de sorteios. Tem um conjunto de critérios que têm de ser respeitados. Primeira coisa que essas famílias têm que fazer é aceitar o abrigamento da prefeitura. A gente vai olhar a situação social de cada um. Eles não poderão ficar na Cinelândia, terão que ir para um abrigo."