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Sem energia elétrica, aparelhos viram enfeite em residências do Piauí

Aliny Gama*

Do UOL, em Maceió

25/05/2015 06h00

Moradores dos povoados Abelha Branca e Gado Bravo, no município de Paulistana, no sertão do Piauí, exibem geladeiras e televisões em suas residências, porém o único aparelho eletrônico que funciona no local é telefone celular.

Passados dez anos, o programa do governo federal Luz para Todos ainda está no papel para 257 mil casas -- apesar da meta do governo para 2009 de levar energia elétrica para todos os brasileiros.

No Piauí, estima-se que existam 32 mil domicílios sem energia elétrica, segundo dados da Eletrobras Piauí.

Morador da localidade de Abelha Branca, o agricultor Mamede José da Costa, 51, ficou feliz ao ganhar em um bingo a sonhada geladeira no ano passado. Mas o produto vive causando irritação à família por conta da falta de energia elétrica. O aparelho até hoje está embalado por falta de energia elétrica para ligá-lo.

A aposentada Sebastiana Raimunda de Sousa, 78, mora na localidade Gado Bravo, em Paulistana. Na casa dela não tem energia elétrica, mas mesmo assim Sebastiana adquiriu geladeira e televisão há sete anos. Sem uso, Sebastiana levou a televisão para casa da filha, que mora em outra localidade de Paulistana, esta contemplada pela energia elétrica.

“Nasci e me criei nessa situação e não estou feliz sem energia elétrica, sem energia não se pode usar nada. Aqui é um lugar esquecido”, disse. Para iluminar a casa, ela usa um pequeno candeeiro e uma lanterna a pilha.

Improviso para recarregar baterias

Apesar de viverem em imóveis que não têm energia elétrica, piauienses conseguem improvisar no carregamento de baterias para usar telefones celulares – item presente em quase todas as residências – e até notebook.

Para obter sinal da operadora, eles fazem uso de antenas de telefonia rural. Apenas uma marca, a LG, possui sistema que amplia o sinal e permite a conexão em áreas rurais.

As baterias dos telefones celulares são carregadas nas casas de parentes que moram em localidades com energia ou quando os adolescentes vão à escola na cidade. Eles levam todos os aparelhos para se conectarem às tomadas durante as aulas. Em São Francisco de Assis do Piauí e Paulistana, todas as escolas têm energia elétrica.

Esquecidos pelos jovens de hoje, que preferem aparelhos multiuso, os telefones “lanterninhas” são os mais usados. Os aparelhos servem de videogame. Residentes no povoado Abelha Branca, em Paulistana, os adolescentes Wagner Rodrigues de Alencar, 13, e Ilaelson Vieira da Silva, 13, são o centro das atenções entre os amigos porque possuem telefones celulares. Eles se divertem por horas jogando em grupos nos telefones celulares.

A estudante do terceiro ano do ensino médio Mariuva Joana de Alencar, 17, possui um telefone simples. Ela usa o aparelho para ligar e enviar a antiga SMS. Ela não sabe o que é aplicativo WhatsApp, usado para trocas de mensagens. “Meu telefone é simples, mas gostaria de usar um que pegasse internet para falar com as pessoas”, disse a jovem.

O líder comunitário de Paulistana, Osvaldo Mamédio da Costa, desenvolveu um aparelho que capta energia solar para alimentar uma bateria e, assim, poder usar o notebook por uma hora. A utilização do aparelho é geralmente acessar internet e cobrar por meio de e-mails a instalação da energia elétrica na localidade.

“Para quem mora na cidade, isso parece não fazer diferença, mas espere só dormir um dia nessas condições, viver nessa situação. De a gente não poder apreciar um negócio que envolve energia elétrica, mesmo tendo, com dificuldades, comprado uns negocinhos para a casa”, disse Costa.

* Colaborou Orlando Berti