Topo

Prefeitura derruba casas em favela no Rio; morador diz não ter sido avisado

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

30/05/2015 06h00

Nesta quinta-feira (28) os moradores da Favela Metrô Mangueira, localizada ao lado do estádio do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, amanheceram com os sons de tratores da prefeitura. Sem aviso, segundo moradores, a administração municipal demoliu ao menos oito casas, uma Igreja Assembleia de Deus e o ferro-velho do local.  

Segundo a Secretaria Municipal de Ordem Pública, técnicos da prefeitura avaliaram e condenaram os imóveis, que estariam desabitados e foram construídos em área pública. Por isso não haveria a necessidade de aviso prévio.

À reportagem, Girlene Tavares, que chegou à favela em 2012, fez questão de mostrar os móveis e os brinquedos das crianças que ficaram sob os escombros. Ela diz que saiu correndo de casa com os filhos de oito meses e quatro anos no colo e foi informada de que teria pouco mais de 15 minutos para recolher seus pertences.

“Quase derrubaram comigo lá dentro”, diz Girlene. “Peguei uma mochila, coloquei os meus documentos e os das crianças, umas roupas, e uns amigos ajudaram a carregar a máquina de lavar e geladeira. Era pouco, mas era tudo o que eu tinha.”

A ação só não colocou o resto da favela abaixo por causa de uma liminar concedida pela Justiça no fim da noite de quinta-feira (28). O governo tenta, desde 2010, remover os moradores do local, a menos de 700 metros do Maracanã, onde ocorrerá a cerimônia de abertura da Olimpíada, no ano que vem. A maior parte de suas casas, que chegaram a abrigar mais de 600 famílias, já foi demolida. As que ainda seguem de pé acabaram sendo ocupadas por outras famílias ou abrigam moradores que não entraram em acordo com o município.

Adriano Vidal, 18, e a família reuniram os móveis que conseguiram retirar da casa antes da demolição em um canto do terreno. Na tarde desta sexta-feira (29), ele tomava conta enquanto a mãe, que trabalha à noite em um restaurante na Tijuca, também na zona norte, dormia, escondida do sol da tarde por um lençol e um guarda-sol. “Falaram que era para tirar tudo, que iam derrubar. Não dormi. Só sigo aqui por causa da minha mãe.”

Segundo a prefeitura, a remoção da comunidade vai abrir espaço para o Polo Automotivo da Mangueira, um centro comercial que vai reunir lojas de autopeças e borracharias que já funcionam na região. Os moradores e comerciantes que permanecem no local, no entanto, reclamam que o governo descumpriu o acordo de primeiro construir no terreno um polo automotivo, em substituição às antigas oficinas, e só depois demolir os imóveis.

No começo da tarde desta sexta-feira (29), os moradores brigavam para ter acesso a decisão da Justiça que impedia a derrubada das outras casas, impressa e distribuída por representantes de movimentos sociais. Pensavam que se tratava de um cadastro para os programas sociais de habitação do governo.

Girlene, que antes pagava R$ 400 de aluguel na vizinha favela da Mangueira e se mudou para o local após perder o emprego, admite que acha difícil ser reassentada pela prefeitura e diz que convive desde que chegou com a possibilidade de ter que ir embora, mas se ressente da forma como foi removida.

“Sou invasora sim. Vim para cá porque não tinha para onde ir. Que tivessem derrubado, mas que ao menos me deixassem tirar minhas coisas.”