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PM usa grupo no Facebook para traçar estratégias de policiamento no Rio

O capitão posta fotos de PMs posicionados em ruas, avenidas e locais como o Aterro do Flamengo. "É uma meta nossa reforçar a visibilidade da atividade policial", disse ele - Reprodução/Facebook
O capitão posta fotos de PMs posicionados em ruas, avenidas e locais como o Aterro do Flamengo. "É uma meta nossa reforçar a visibilidade da atividade policial", disse ele Imagem: Reprodução/Facebook

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

10/06/2015 06h00

Há duas semanas, o policiamento em Laranjeiras, no Flamengo e em outros bairros do entorno, na zona sul do Rio de Janeiro, é planejado com base em informações postadas em um grupo no Facebook. Os relatos sobre furtos, assaltos e outros atos de violência são filtrados pelo próprio comandante do patrulhamento na região, capitão Renato Leal, do 2º BPM (Botafogo), que teve a iniciativa de interagir com os usuários. Além de participar ativamente do grupo, o PM disponibilizou o seu celular pessoal para troca de informações via WhatsApp.

Segundo ele, a estratégia de comunicação tem sido eficaz. Em dez dias, entre prisões e apreensões, a PM conduziu à delegacia pelo menos dez suspeitos, isto é, um por dia. "Isso só foi possível com a participação dos moradores que escrevem no grupo. Prestamos atenção em tudo o que é colocado lá: reclamações, denúncias, críticas. As mensagens indicam quais são as áreas mais sensíveis. Dessa forma, definimos de que forma podemos adequar o patrulhamento às necessidades de cada bairro. Estamos iniciando um processo que tem tudo para dar certo", afirmou ele ao UOL.

O resultado mais expressivo dessa aproximação entre o policial e os usuários do Facebook se deu com a localização e prisão do suspeito Sérgio da Silva Conceição, apontado como autor de diversos assaltos na região do Flamengo e do largo do Machado. No grupo, desde o mês passado, havia dezenas de postagens que alertavam para a movimentação do suspeito, que agia sempre de bicicleta e com um revólver calibre 38.

Tais informações —incluindo imagens de câmeras de segurança que foram divulgadas no grupo— embasaram a estratégia da PM para capturá-lo. Policiais foram posicionados em vias do perímetro de ação do assaltante: ruas como Buarque de Macedo, Gago Coutinho, Pinheiro Machado, Bento Lisboa e Dois de Dezembro. Conceição foi capturado, enfim, no último domingo (7), no Beco do Pinheiro, entre as ruas Dois de Dezembro e Machado de Assis. Ele havia acabado de roubar mais uma pessoa.

A mensagem de Leal que informava sobre a prisão do suspeito teve quase 1.200 curtidas, 250 comentários e 130 compartilhamentos. Muitos usuários elogiaram a estratégia do policial e exaltaram a importância do grupo. "Excelente trabalho. Esse grupo é o sistema de inteligência mais simples e funcional que já vi. Sem necessidade de caça às bruxas ou justiceiros, apenas fazendo a lei prevalecer, como sempre deve ser. Parabéns a todos", escreveu o internauta Claudio Reston. "Temos que nos unir cada vez mais. Está funcionando", comentou Marcus Silva Reis.

Dinamismo

O capitão explicou que a iniciativa de interagir com a população por meio do Facebook surgiu porque a maioria das vítimas dificilmente faz o registro de ocorrência na Polícia Civil. Com isso, as pesquisas do ISP (Instituto de Segurança Pública), que faz o levantamento mensal dos indicadores de criminalidade no Estado do Rio, acabam sendo prejudicadas. "No Facebook, embora não seja igual ao boletim de ocorrência, a gente consegue pelo menos identificar o local do fato, o que já nos ajuda a pensar estratégias de policiamento. É um dado primordial", afirmou.

Para Leal, o celular com internet é uma ferramenta de trabalho indispensável. "A rede social facilita muito. As pessoas estão conectadas o tempo todo, o que faz com que a comunicação seja mais efetiva. São recursos tecnológicos que os policiais devem usar cada vez mais. Essa é a orientação que eu passo para a equipe", completou.

Desde que começou a participar do grupo, o capitão fez uma lista com as ruas nas quais houve maior incidência de relatos de roubos e assaltos. Esse mapeamento orienta a distribuição das patrulhas, que são divididas em cinco rondas ostensivas. As equipes têm militares a pé, em motocicletas e em carros da PM. "O foco é ocupar os espaços de forma mais inteligente. Por exemplo, no horário de saída dos colégios, os policiais de moto acompanham a movimentação até os pontos onde há policiais a pé. Depois, as motos retornam ao local de origem. Isso tem dado outra dinâmica ao nosso esquema de segurança", explicou.

Apreensão de menores

Segundo Leal, a maioria dos furtos e assaltos que ocorrem na área do 2º BPM é cometida por adolescentes que vivem nas ruas da região ou em comunidades próximas. Em sua visão, há uma "falência do Estado de maneira geral", pois o número cada vez maior de adolescentes nas ruas não seria "fruto de um problema de polícia, e sim social". O policial disse ainda pensar que a redução da maioridade penal não seria a melhor alternativa para enfrentar a criminalidade.

"Essa é uma discussão que possui duas vertentes. Uma pessoa de 16 anos é, sim, plenamente capaz de entender que está cometendo um ato ilícito. Mas não podemos achar que o sistema prisional é simplesmente um depósito de gente", disse. "A cadeia deveria ressocializar o indivíduo. Se isso não acontece nem para os adultos, como se daria em relação aos adolescentes? Nesse sentido, acho que não tem sentido reduzir a maioridade penal."