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Barragens para evitar novas cheias atrasam ou não saem do papel em AL e PE

Carlos Madeiro

Do UOL, em Palmares (PE)

18/06/2015 06h00

Prometidas como solução para evitar novas enchentes na mata sul de Pernambuco, as cinco barragens para conter a água dos rios no interior pernambucanos estão atrasadas em mais de dois anos. Já em Alagoas, nenhuma das barragens prometidas saiu do papel.

Das barragens pedidas pelos governos estaduais, apenas as cinco de Pernambuco estão em obras. Deveriam ter sido entregues até 2013 -- duas tinham promessa de conclusão em 2012. O lançamento das obras contou inclusive com a presença da presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2011. Mas as obras caminharam a passos lentos e nenhuma delas foi entregue.

Em junho de 2010, as enchentes em Alagoas afetaram 29 municípios, deixando um saldo de 27 mortos e mais de 70 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Em Pernambuco, os alagamentos atingiram 68 municípios, matando 20 pessoas e deixando 80 mil desabrigadas ou desalojadas.

No último dia 11, o UOL visitou o canteiro da maior das barragens, a do Serro Azul, no rio Una, em Palmares, que terá capacidade de acumular 303 milhões de m³ de água. Orçada em R$ 246 milhões, a obra deveria ter sido entregue em fevereiro de 2012, mas está incompleta e praticamente parada.

A reportagem não teve autorização para visitar a obra, mas deu para perceber que poucas pessoas trabalhavam no local. Segundo apurou o UOL com um dos funcionários, houve uma paralisação da obra por conta de falta de recursos e demissão de empregados no ano passado. A obra teria sido retomada há dois meses, mas com apenas cerca de 50 pessoas atuando no momento.

O Ministério da Integração Nacional informou que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) destinou R$ 368 milhões para a execução das cinco barragens em Pernambuco. Há ainda recursos do Estado de contrapartida. Do total federal, R$ 226,8 milhões já foram pagos. “Todas as obras estão em andamento”, afirmou a pasta, dizendo ainda que as obras devem ficar prontas em 2016, sem precisar meses ou justificar os atrasos. Procurado, o governo de Pernambuco não se pronunciou sobre as obras.

Alagoas à espera

Já no caso de Alagoas, não há barragens em obras. Segundo o governo do Estado, um novo estudo reduziu de 14 para oito o número de barragens necessárias para conter a água dos rios Mundaú e Manguaba, mas as obras ainda não têm data para começar.

"Como a estimativa de execução tem um valor considerável, dividimos em duas fases: A primeira, com as quatro tecnicamente mais prioritárias, e a segunda com outras quatro. Essas primeiras estão fase final de detalhamento de projeto para lançar a licitação. Devemos concluir em 60 dias esse projeto", disse o secretário adjunto de Projetos Especiais e Irrigação, Alzir Lima, afirmando também que as barragens devem custar R$ 1,2 bilhão.

Medo dos moradores

Enquanto as barragens não saem do papel, o medo de uma nova tragédia toma conta das três cidades mais atingidas da mata sul de Pernambuco: Palmares, Água Preta e Barreiras. O centro de Barreiros, por exemplo, fica vizinho ao rio Una e não foi transferido mesmo após ser invadido pelas águas em 2010 e 2011.

Em Água Preta, muitos moradores não escondem o medo de uma nova tragédia. Ivonete Lucas de Souza, 65, diz que, sem as barragens, a chegada da chuva é sinal de grande preocupação. “Eu vivo com muito medo. Queria vender a casa aqui, mas ninguém comprar porque sabe que é da enchente”, disse.

Já Luiz José Silva, 71, diz que preferiu não deixa a área que alagou em 2010 porque se recusa a viver em uma “casa minúscula” dos novos conjuntos que foram construídos em Água Preta. “Ninguém daqui quis ir, porque não é sempre que tem uma cheia daquelas. Medo tem, mas fazer o quê? Melhor aqui, todos juntos, que naquele conjunto longe”, afirmou.

A situação é similar na cidade vizinha de Barreiros, onde moradores vivem ao lado dos rios. Ângela Maria da Silva, 60, mora na rua do Carrapicho, que teve pelo menos metade das casas destruídas pela cheia, mas prefere morar na casa onde viveu sempre viveu.

“Não tenho medo [de uma nova cheia], mesmo sem barragem. Eu gosto é quando o rio enche e eu pego camarão”, afirmou, citando que “perdeu tudo” em junho de 2010. “Mas já recuperei quase tudo, estou bem.”