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Em palestra com clima de legalização, Mujica diz que "maconha é uma praga"

Brownies do Mujica - Gustavo Maia/UOL - Gustavo Maia/UOL
Brownies feitos com maconha foram vendidos na Uerj durante palestra de José Mujica
Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio de Janeiro

27/08/2015 21h43

Diante de milhares de jovens, o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, 80, afirmou na noite desta quinta-feira (27), no Rio de Janeiro, que o seu governo regulamentou e não legalizou o consumo da maconha, frustrando boa parte do público. Durante sua palestra, ele chegou a afirmar que a droga é uma praga.

Enquanto isso, na plateia, a droga era amplamente utilizada. Uma jovem aproveitou a ocasião para vender o que batizou de "Brownie do Mujica". Cada unidade era vendida a R$ 5. Na entrada do ex-presidente, foram acesos diversos sinalizadores com fogo de cor verde.

Mujica falou sobre a experiência uruguaia no combate ao narcotráfico ao ser questionado por um estudante se o Brasil estava pronto para a legalização das drogas. "Não se trata de legalização ou de 'viva a maconha'. Não. É uma praga. Mas não estávamos conseguindo vencer a guerra contra o narcotráfico e decidimos atacar o que eles mais prezam, que é o negócio", argumentou.

Sem se referir à discussão em pauta no Brasil, ele disse que um terço dos presidiários no Uruguai estavam encarcerados por alguma relação com as drogas. "Gastávamos muito dinheiro em polícia e para manter esses presos", declarou. O ex-presidente ponderou, no entanto, que o Uruguai é um país pequeno e socialmente, "em termos relativos", mais avançado.

Durante o evento, Mujica se posicionou contra a redução da maioridade penal no Brasil. "Não creio que esse caminho ajude. [Com a redução], o que temos a oferecer a esses jovens é uma realidade muito pior. As cadeias se tornaram universidades do delito. O cárcere não ajuda a superar deficiências, e sim as multiplica, pelo menos na América Latina".

Lotação completa

O evento aconteceu na Concha Acústica da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). A lotação do anfiteatro foi superada mais de uma hora antes do início da palestra. Por conta da alta procura, a universidade transmitiu o evento pela internet e em um telão dentro do campus.

O local ficou tão lotado que algumas pessoas subiram em árvores ao redor da Concha Acústica para ver o uruguaio. A universidade estima que cerca de 4.000 pessoas acompanharam o evento. 

Ao longo de toda a palestra, que durou aproximadamente uma hora e meia, Mujica foi bastante aplaudido, principalmente nos momentos em que erguia a voz e conclamava os presentes a lutar contra a desigualdade social na América Latina. "Aos 80 anos, não vim aqui buscar aplausos, vim acender a chama da militância da juventude", afirmou, definindo-se com "um velho que um dia já foi jovem". "A juventude passa, as causas nobres, não".

Melhorar a democracia

Ao lado de bandeiras da UNE (União Nacional dos Estudantes), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do PT (Partido dos Trabalhadores), o público vibrava a cada frase de efeito dita pelo ícone da esquerda latino-americana. Um dos momentos de maior fervor aconteceu quando Mujica respondeu a uma pergunta sobre a atual crise de representativa política no mundo. "O problema não são os presidentes, o problema é toda a corte", declarou, ouvindo do público em seguida o coro de "Fora Cunha".

Neste momento, não entendendo o significado do que gritava a plateia, disse que a situação brasileira não diz respeito a ele, mas frisou: "tenho que ser claro: aventura com uniformes militares? Por favor! Golpe de Estado? Por favor. Este filme já vimos muitas vezes na América Latina e não pode acontecer de novo. Essa democracia não é perfeita porque não somos perfeitos. Temos que defender a democracia para melhorá-la, não para sepultá-la".

Mujica também fez críticas à esquerda e referências veladas a casos de corrupção. "Não culpemos só os outros. É claro que a direita luta pelo que quer. O problema é se nós dermos oportunidades a eles. Se o que busca é dinheiro, não se meta na política. Porque o povo deixa de acreditar nas principais ferramentas de mudança, que são os partidos progressistas de esquerda".

O político uruguaio defendeu ainda o que chamou de "pressão fiscal" sobre os mais ricos. "Na América Latina, os mais mais ricos quase não contribuem. Que paguem mais os que têm mais! Sem pressão fiscal, os empresários são apenas parasitas", declarou.