Topo

Beltrame sobre arrastões: Como um jovem vai à praia sem dinheiro pra comer?

Do UOL, no Rio

21/09/2015 13h00Atualizada em 22/09/2015 08h16

O secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou nesta segunda-feira (21) que a Polícia Militar voltará a realizar medidas como abordagem a ônibus para evitar arrastões nas praias da zona sul da cidade. No último fim de semana, houve cenas de violência generalizada em locais como Copacabana, Arpoador, Ipanema e Botafogo. "A polícia está enxugando gelo, está sendo constrangida. Se atua, abusou de poder, se não atua, prevaricou", disse, em entrevista à rádio "CBN".

Segundo Beltrame, as ações vinham "dando resultados positivos", mas foram vetadas após decisão judicial que impede apreensão e prisão de jovens sem crimes em flagrante. A determinação se deu em resposta a fatos que ocorreram no dia 24 de agosto, quando mais de 150 adolescentes foram abordados e retirados de um ônibus que seguia em direção à zona sul da cidade.

Beltrame afirmou que a responsabilidade não é apenas das forças policiais. "Não se trata de racismo, mas sim de vulnerabilidade. Como é que um jovem sai de Nova Iguaçu, a 30 km de distância da praia, sem dinheiro para comer, para beber, para pagar a passagem, só com uma bermuda? Como ele vai ficar o domingo todo embaixo de um sol de 40ºC? As famílias também têm que ter responsabilidade. Isso cai nas mãos da polícia. A polícia não tem que ser babá."

O secretário convocou representantes da Polícia Militar e de outros órgãos de segurança para uma reunião na tarde desta segunda, na sede da Secretaria de Estado de Segurança Pública, com objetivo de definir o esquema de policiamento para o próximo verão. "A polícia vai agir de maneira que a população tenha o seu direito de ir e vir garantido", declarou.

"Polícia está só"

Beltrame criticou a ausência dos assistentes sociais no fim de semana. Repetindo um discurso que lhe é recorrente, atribuiu os episódios de violência registrados ao fato de a polícia estar "só", sem amparo de outros órgãos do Estado e da prefeitura.

"A polícia não vai resolver tudo sozinha. E isso está acontecendo porque a polícia está só. A polícia foi tolhida na sua missão de prevenção. Precisamos de outros atores para fazer esse papel, porque o esquema está desequilibrado", ressaltou Beltrame. "Temos um órgão que executa tudo isso, enquanto tem várias instituições que fiscalizam. O que vamos fazer é trazer todos os órgãos que tem a ver para esse tipo de ação."

Beltrame disse que órgãos de inteligência da Polícia Militar já detectaram a articulação de grupos de "justiceiros", que pregam agressões contra jovens que cometerem delitos. "Eu temo que haja problema de linchamento se isso continuar desse jeito. Em vez de um problema, estamos com o risco de ter dois", destacou Beltrame, afirmando que a polícia terá que se preocupar ainda em reprimir eventuais crimes cometidos por moradores da zona sul.

O coronel Cláudio Lima Freire, chefe operacional do Estado-Maior da PM, disse que o esquema de policiamento será "reavaliado" e admitiu que não há efetivo policial que dê conta do número de praticantes de furtos e roubos que chegam à orla de Copacabana e Ipanema, onde estão as principais praias da zona sul, em fins de semana de sol.

"Não tem polícia no mundo que vai ter essa capilaridade de ter policiais em todos os sinais de Copacabana e Ipanema", afirmou o coronel. Segundo ele, a novidade deste ano é que os assaltante vêm se espalhando pelas ruas dos bairros, em vez de restringirem suas ações às areias e à Pedra do Arpoador.

No último fim de semana, pelo menos 30 pessoas foram detidas por suspeita de participação em furtos e roubos registrados na zona sul do Rio. Em Botafogo, um vendedor levou um tiro em uma tentativa de assalto. No Humaitá, uma padaria foi saqueada por 20 pessoas.

De acordo com relatos de moradores, houve vários casos de assalto em Ipanema, Copacabana e Botafogo. Na versão da PM, foram registradas "apenas ocorrências isoladas de furto" nas praias. No entanto, vídeos compartilhados em redes sociais mostram que os casos de violência foram mais graves do que "apenas ocorrências isoladas".

No Humaitá, o clima era de medo para a gerente de padaria Maria Adelaide da Cruz. O local foi saqueado por um grupo de jovens no sábado (19). Clientes e funcionários correram para os fundos para escapar das agressões. "Foi muito rápido, mas assustador. Os menores têm seus defensores, mas nós, trabalhadores, não. Tenho medo porque essas pessoas estão preparadas para o mal, para agredir, para matar", disse. (Com Estadão Conteúdo)