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Reunião em Copacabana tem aplausos para "justiceiros": "são injustiçados"

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/09/2015 05h59

Reunidos para discutir os arrastões e tumultos ocorridos no último fim de semana em Copacabana, na noite desta quinta-feira (24), moradores do bairro da zona sul do Rio de Janeiro aplaudiram as ações dos chamados “justiceiros”.

O termo está sendo usado para designar as pessoas que no domingo (20) abordaram ônibus que levavam passageiros à zona norte da cidade e agrediram jovens da periferia suspeitos de praticar assaltos. Os aplausos aconteceram depois de eles serem chamados de “verdadeiros heróis”.

“Não são justiceiros, são injustiçados”, interrompeu um morador, na primeira menção à palavra durante o encontro. “São moradores que não estavam aguentando mais”, disse outro. “Legítima defesa é diferente de atos de justiceiros”, argumentou mais um.

“Essa palavra é ridícula. Eu prefiro guerreiros da paz. Eu estava lá com a minha família e o que houve foi uma reação à ação. A própria polícia nos deu apoio”, declarou o empresário Djalma Bandeira, 59. Outro participante da reunião também relatou ter “reagido” à violência no fim de semana.

O encontro reuniu 35 pessoas no auditório de um hospital particular. Os participantes eram em sua maioria adultos de meia-idade ou idosos.

A reunião foi convocada pela SAC (Sociedade Amigos de Copacabana), uma das maiores associações de moradores do bairro. Apreensão e indignação deram o tom do encontro, que durou aproximadamente duas horas.

Nascido e criado em Copacabana, o advogado Raphael Gattás, 35, reclamou da discriminação contra os “justiceiros” e pediu que os outros moradores apoiassem o grupo.

“Se a gente puder dar uma força a eles para tirar esse rótulo de justiceiros e mostrar como eles estão sendo injustiçados por defender o patrimônio e a vida de cada um de vocês aqui, seria legal. Na minha opinião, eles são verdadeiros heróis”, afirmou. Em outro momento da reunião, ele se referiu ao movimento como “uma rebelião dos moradores do bairro”.

 

“Prefeitinho” - administrador regional - de Copacabana de 2007 a 2013, Gattás foi candidato a vereador do Rio pelo PP em 2012, mas não foi eleito. Atualmente é assessor especial da Vice-Governadoria do Estado.

À atuação dos “justiceiros”, também foi creditada a mudança de postura dos órgãos públicos, que nesta quinta-feira (25) anunciaram nova estratégia de segurança para o este fim de semana.

O esquema inclui a instalação e 17 barreiras para revistar passageiros dos ônibus que vão chegar nas praias de Copacabana, Ipanema e Leblon. Os bloqueios serão feitos por policiais militares acompanhados de assistentes sociais.

“Graças a Deus, graças a eles, teve essa audiência, porque se não ia tudo continuar na mesma”, afirmou Cláudia Maia, diretora executiva da SAC.

Durante a reunião, em tom de alerta, ela lembrou aos presentes que a DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática) está investigando possíveis crimes na internet tanto dos autores dos arrastões quanto dos “justiceiros”.

Para o administrador de empresas Paulo Roberto Portugual, 61, “ninguém tinha que filmar os rapazes batendo nos bandidos”. “Toda ação tem uma reação”, opinou.

Ações efetivas

Presidente da associação, o advogado Horário Magalhães defendeu a estratégia adotada desde o início do ano pela Polícia Militar e disse que a decisão da Justiça de proibir, no último dia 10, a apreensão de adolescentes a caminho da praia sem flagrante de crime, engessou o trabalho policial.

“Eram ações efetivas porque cortavam na raiz”, opinou o advogado. “Os arrastões só aconteceram agora [no fim de semana] porque a PM não pôde fazer a ação preventiva”.

No encontro, os moradores também refutaram as alegações de que o comportamento de quem vive na zona sul é segregacionista.

“Não tem nada de racismo ou de discriminação", declarou Magalhães. “Até porque aqui em Copacabana nunca houve nada disso, sempre convivemos bem”, complementou a aposentada Rosa Sodré, 65, que mora no bairro desde os oito anos de idade -- “o bom tempo de Copacabana”.

Durante a reunião, um morador propôs que os adolescentes que estiverem sem dinheiro nas ruas sejam levados “em ônibus cheios” para abrigos da prefeitura, "para que os pais tenham que buscá-los". “Porque aí ficaria uma coisa bonitinha para a sociedade”, justificou.

Houve ainda reclamações contra o chamado discurso dos direitos humanos. “Eu acho curioso que ninguém fala da palavra deveres, só de direitos”, comentou Horácio.

“Para eles, só o outro lado da população tem que ter o direito de ir e vir garantido. Mas eles [os jovens] é que são os bandidos e são os moradores de Copacabana que têm que ficar trancados em casa”, desabafou Rosa. “A culpa do problema social é minha? Nós somos vítimas”.

“Estou vendo que o pessoal de lá está mais unido do que o daqui. Quando morre um de menor lá, todo mundo se mobiliza”, afirmou Djalma.

Nenhum dos moradores que compareceu à reunião relatou ter sido roubado em um arrastão. Cláudia contou que a filha mais nova teve o picolé roubado em uma rua de Copacabana no último domingo. A história arrancou risos nervosos da plateia.

Vestido com roupas de academia, um homem que se identificou apenas como Luís e se recusou a falar com a reportagem ao fim da reunião, contou que participou do “movimento contra os arrastões” tanto no último domingo quanto na década de 1990, quando os roubos em grupo ocorreram pela primeira vez nas praias cariocas.

Segundo o morador, por conta dos atos deste fim de semana, ele foi parar na delegacia no domingo e teve que voltar para prestar depoimento na terça. “E não tinha nenhum deles lá”, declarou, irritado. “Isso é uma inversão de valores”, comentou dona Rosa.

Luís contou que foi bem tratado na delegacia. “Os policiais não me colocaram contra a parede. Também são pais de família, até concordaram comigo”.

Em entrevista ao fim da reunião, Horácio Magalhães declarou que a associação não concorda com o radicalismo e não defende nenhum tipo “justiça com as próprias mãos”.