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Acusados de tráfico pagavam R$ 150 mil ao TJ-CE por soltura, diz PF

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/09/2015 15h10

A PF (Polícia Federal) descobriu que seis presos acusados de tráfico de drogas em Fortaleza compraram alvarás de soltura obtidos durante o plantão do TJ-CE (Tribunal de Justiça do Ceará). Segundo a polícia, cada liminar de soltura teria custado o valor de R$ 150 mil. A fraude foi divulgada nesta terça-feira (29) durante a Operação Cardume, realizada em oito Estados nos quais a quadrilha de entorpecentes atuava

Além de Ceará e Rio Grande do Norte, policiais federais cumpriram mandados judiciais no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Ao todo 26 pessoas foram presas, sendo 21 pessoas no Ceará e cinco no Rio Grande do Norte.

A polícia informou que o esquema de expedição de liminares de soltura beneficiando acusados de tráfico de drogas envolvia advogados, juiz e desembargadores. O grupo é suspeito de atuar na compra e na venda de alvarás judiciais durante em plantões do Tribunal de Justiça do Ceará. Segundo o delegado Janderlyer Gomes de Lima, a fraude foi descoberta durante as investigações sobre a atuação da quadrilha de traficantes internacionais.

“A atuação da organização criminosa era complexa. Além do tráfico de drogas, tinha lavagem de dinheiro, desvios de insumos químicos e compra de armas. Em meio as investigações descobrimos o esquema de vendas de alvarás de soltura no plantão judicial do TJCE”, disse Lima. Cada alvará teria custado R$ 150 mil.

As investigações iniciaram em outubro de 2013 e desde lá a polícia apreendeu uma tonelada de cocaína, 21 quilos de maconha, 300 kg de substâncias químicas usadas para refino de cocaína, apreendeu R$ 500 mil e interditou dois laboratórios de crack no Ceará e outro em Portugal, na cidade de Setúbal, com o auxílio da Divisão de Estupefacientes de Lisboa. Em Portugal, a polícia apreendeu 660 garrafas com rótulo de cachaça que foram usadas no transporte de drogas e 50 kg de cocaína.

Segundo a PF, o tráfico começava com a compra da pasta de cocaína e produtos químicos na Bolívia e no Paraguai. O entorpecente entrava no Brasil por meio de aviões monomotores e era transportado camuflado em tanques de caminhões até o Nordeste. No Ceará, a cocaína era colocada em engarrafada com rótulos de cachaça em laboratórios de traficantes e exportada para Portugal e outros países da Europa. Já no Rio Grande do Norte, a droga era distribuída para Paraíba e Pernambuco. Segundo a polícia, cada "braço" da quadrilha movimentava R$ 1 milhão por mês.

“Nesses quase dois anos a Polícia Federal brasileira e a Polícia Judiciária portuguesa conseguiram mapear a complexa organização criminosa que atuava no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro”, disse o delegado.

A PF informou ainda conseguiu cumprir 14 mandados de prisão preventiva, 12 temporárias e 18 conduções coercitivas na operação Cardume. Outras quatro pessoas foram presas durante as buscas por porte ilegal de arma de fogo e posse de entorpecentes. A PF apreendeu quase uma tonelada de fenacetina --produto químico usado para dar volume à cocaína. A polícia bloqueou 118 contas de pessoas físicas e jurídicas nos oito Estados e de 15 carros de luxo.

O TJ-CE disse que não recebeu nenhuma notificação da PF sobre a operação, mas informou que “caso venha a ser formalmente instado, contribuirá com quais solicitações forem feitas pela Polícia Federal no sentido de facilitar as investigações.”